Cientistas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, descobriram que o método CRISPR/Cas9, conhecido por permitir o corte em parte de um DNA, também pode ser utilizado no combate de cânceres metastáticos. O sistema baseado em Nanopartículas Lipídicas (LNP, na sigla em inglês) promete ser mais um passo importante em direção à cura desta agressiva doença, segundo os pesquisadores. O estudo foi publicado na quarta-feira (18) na revista científica Science Advances.
A técnica funciona da seguinte forma: LNPs visam especificamente as células cancerosas e as destrói por meio da manipulação genética. O sistema CRISPR-LNPs carrega um RNA mensageiro que codifica para a enzima CRISPR-Cas9 que atua como uma tesoura molecular que corta o DNA das células.
Intenção é usar método de corte de DNA para o tratamento de cânceres severos. Créditos: Nathan Devery/Shutterstock
Testes
Para provar a teoria, Dan Peer, chefe do Laboratório de Nanomedicina de Precisão da Escola Shmunis de Biomedicina e Pesquisa do Câncer da Universidade de Tel Aviv, e sua equipe selecionaram dois cânceres considerados mortais para os testes: o glioblastoma e câncer de ovário metastático.
Neste ponto, cabe lembrar que o glioblastoma é o tipo mais agressivo de câncer cerebral, apresenta uma expectativa de vida de 15 meses após o diagnóstico e uma taxa de sobrevida em cinco anos de apenas 3%. Considerando estes aspectos, os pesquisadores conseguiram demonstrar que apenas um tratamento utilizando o método CRISPR-LNPs dobrou as expectativas de vida média em camundongos com tumores desta natureza. O tratamento também melhorou a taxa de sobrevida geral em aproximadamente 30%.
Já sobre o câncer de ovário, vale destacar que ele é a principal causa de morte entre mulheres, considerando que apenas um terço das pacientes diagnosticadas sobrevivem a ele. Trata-se do câncer mais letal do sistema reprodutor feminino. Quando a doença é diagnosticada em um estágio já avançado, é comum que a metástase já tenha se espalhado por todo o corpo. Mas com o CRISPR-LNPs aplicado em camundongos com a doença, a taxa de sobrevivência geral aumentou em 80%.
Além disso, os cientistas destacam que ao ser possível demonstrar a eficácia do tratamento em tipos de cânceres mais agressivos, a intenção é que ele também possa ser aplicado em outros tipos da doença e em até outras enfermidades genéticas raras e doenças virais crônicas, como a Aids, por exemplo.
Se o CRISPR realmente for eficaz em cânceres mais agressivos, como o câncer de ovário, ele também poderá ser aplicado em doenças menos severas. Créditos: Vchal/Shutterstock
“Agora pretendemos fazer experimentos com cânceres de sangue que são geneticamente muito interessantes, além de doenças genéticas como a distrofia muscular de Duchenne”, adiantou Peer.
Sobre o significado da descoberta, os cientistas destacam que “a capacidade de interromper a expressão gênica in vivo em tumores abre novos caminhos para o tratamento do câncer, pesquisa e aplicações potenciais para edição de genes direcionados de tecidos não cancerosos”.
Método no futuro
Embora a descoberta seja extremamente importante para a comunidade científica, ainda há muito caminho a ser percorrido para que ele seja aplicado em larga escala. “Apesar de seu amplo uso em pesquisa, a implementação clínica ainda está em sua infância porque um sistema de entrega eficaz é necessário para entregar com segurança e precisão o CRISPR às células-alvo. O sistema de entrega que desenvolvemos tem como alvo o DNA responsável pela sobrevivência das células cancerosas. Este é um tratamento inovador para cânceres agressivos que não têm tratamentos eficazes hoje”, destacou Peer.
“Provavelmente levará algum tempo até que o novo tratamento possa ser usado em humanos, mas estamos otimistas. Todo o cenário de drogas moleculares que utilizam RNA mensageiro está prosperando … na verdade, a maioria das vacinas Covid-19 atualmente em desenvolvimento são baseadas neste princípio”, disse Peer. “Acredito que, em um futuro próximo, veremos muitos tratamentos personalizados baseados em mensageiros genéticos – tanto para câncer quanto para doenças genéticas”, finalizou o cientista.
Via: Genengnews