Durante 2020, se tornou evidente a escalada de tensões geopolíticas entre China e Índia. As potências da Ásia representam grandes mercados de consumo e, acima de tudo, interesses de visões de mundo politicamente antagônicas no momento.

Esta rivalidade regional, que envolve mais de 2,5 bilhões de pessoas na soma das duas populações, também concerne o mercado de tecnologia global. Os últimos banimentos de aplicativos chineses em território indiano, realizados pelo governo do país, marcam a cisão de um movimento de cooperação que ocorria anteriormente, dando lugar a uma competição com diversos interesses envolvidos.

Desde junho, foram mais de 170 apps chineses banidos no mercado digital indiano pelo governo do presidente Narendra Modi. A Índia representa grande potencial econômico para qualquer empresa do ramo de tecnologia, uma vez que se trata de um mercado consumidor de 500 milhões de usuários de smartphones, com tendência de expansão.

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Chefes de estado da Índia e China em 2018. Imagem: MEA/FotosPúblicas 

Para Mario Esteban, pesquisador de Ásia-Pacífico do Real Instituto Elcano, de Madri, a escalada de banimentos está inserida na disputa geopolítica local, mas também faz parte da batalha por poder no mundo digital entre os Estados Unidos e China. “Isto se lê em chave de represálias pelas tensões fronteiriças. Mas há outra leitura que tem maior profundidade geoestratégica, que tem a ver com a bipolarização do mundo digital, a separação entre dois polos digitais, o norte-americano e o chinês”.

O movimento de rompimento com a China ocorre depois de anos de boas relações com o país, pelo menos na tecnologia. Empresas chinesas foram responsáveis por diversos investimentos bilionários no mercado indiano, influenciando-o a se tornar o que é hoje. Um dos exemplos disto é que a maior empresa de telefones do país é a chinesa Xiaomi, que domina mais de 30% do mercado local.

Aproximação com os Estados Unidos

Agora, os novos investidores locais são norte-americanos. Facebook, Google e Amazon foram responsáveis por novos aportes significativos em unicórnios (empresas cujo valor de mercado representa mais de US$ 1 bilhão) do país.

Para Esteban, o movimento é de aproximação evidente ao lado norte-americano da disputa. “O sinal dado aqui pela Índia é de que claramente se alinha com os Estados Unidos. Isto tem implicações muito amplas, porque dentro da concorrência global que há entre os Estados Unidos e a China o espaço digital é um dos principais domínios de confrontação”.

Para além dos banimentos a aplicativos chineses, novos desafios serão impostos à Índia, caso sua opção seja por sustentar vínculos com os EUA. Um deles é a implementação da infraestrutura 5G no país: o debate sobre qual empresa deve ser responsável pelo gerenciamento do sistema, seja ela ocidental ou oriental vem causando uma grande disputa geopolítica no mundo.

 Fonte: El País