Repelente ultrassônico pode fazer mosquitos picarem mais

Ao serem vendidos como se a sua eficácia fosse cientificamente comprovada, na verdade, aparelhos não apresentam proteção prometida
Luiz Nogueira17/01/2020 19h34, atualizada em 17/01/2020 20h50

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Os repelentes ultrassônicos podem representar uma solução eficaz para um problema recorrente. O produto, que emite uma onda sonora acima de 20 kHz, promete ser uma técnica eficiente contra mosquitos que, ao captarem o som, naturalmente se afastam. Entretanto, cientistas alertam que o uso desse dispositivo pode trazer efeitos contrários aos pretendidos.

Esses aparelhos são vendidos como se sua eficácia fosse cientificamente comprovada. Entretanto, é a própria ciência que refuta sua atuação. “Já tive acesso a estudos sobre o efeito desses repelentes em mosquitos, formigas e baratas, com o teste de aparelhos de diversas marcas comercializadas. A conclusão, de maneira geral, é que esses repelentes não funcionam nesses insetos”, explica Natasha Mezzacappo, física biomolecular, em entrevista ao Uol.

Natasha ainda aponta que insetos conseguem detectar algumas ondas sonoras em determinadas frequências, mas que não são usadas por aparelhos desse tipo. Para ela, a natureza generalista desses dispositivos faz com que eles sejam inúteis para a grande diversidade de insetos existentes.

Isaías Cabrini, pesquisador do Instituto de Biologia da Unicamp, diz que, no caso dos mosquitos, a situação pode ser ainda pior: “Há pesquisas com mais de um século que mostram que, quando falamos de mosquitos, o único som percebido é o bater das asas da fêmea. E isso, na verdade, é um chamado de acasalamento”.

Em 2005, Cabrini apresentou uma tese de mestrado que estudou a eficácia dos pequenos aparelhos na tarefa de afastar mosquitos. As conclusões são preocupantes, e apontam para um aumento das tentativas de picadas enquanto o dispositivo permanecia ligado. Em outras palavras, algumas vezes, o efeito contrário pode ocorrer.

O Inmetro, que certifica produtos para venda no Brasil, possui apenas um desses aparelhos constando como aprovado em seu sistema. A assessoria da entidade afirmou ao Uol que o certificado encontrado aponta apenas que o repelente atende aos requisitos mínimos de segurança elétrica, mas que sua eficiência não foi avaliada.

Os repelentes ultrassônicos podem ser eficazes, mas contra outro animal. De acordo com Flávio Virgínio, doutorado em ciência, os repelentes “emitem um som acima de 20 kHz, acima do limite audível para pessoas. Não é o que ocorre, por exemplo, com animais de estimação, como cães e gatos, que são sensíveis a um espectro sonoro mais amplo do que os humanos. Esses aparelhos, portanto, podem incomodá-los e estressá-los”.

Mesmo sendo muito utilizado, o repelente elétrico pode atuar apenas como um atordoador de mosquitos. Após ser desligado, os insetos podem voltar à ativa no ambiente. Especialistas são unânimes em apontar os meios tradicionais como os mais eficazes no combate a mosquitos. Para eles, os repelentes tópicos ainda são os mais indicados, desde que possuam Dietiltoluamida e Icaridina em sua composição.

Via: UOL

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital