Por que o seu banco não para de infernizar para falar de PIX?

Bancos tradicionais insistem com seus correntistas para se registrarem no novo sistema de transferências. O que os bancos ganham com isso, afinal? Será a melhor opção?
Mumm Rá15/10/2020 16h34, atualizada em 15/10/2020 22h39

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Qualquer um que tenha conta bancária deve ter notado. De uns tempos para cá, seu banco, provavelmente, começou a inundar a tela do seu celular com notificações para registrar as chaves do PIX em suas respectivas instituições. São ofertas especiais e prêmios que incluem até puro e simples dinheiro, como o Santander, que criou um sorteio no valor de R$ 1 milhão para quem se registrasse em seu sistema.

Muita gente tem estranhado. Haveria um truque por trás da generosidade? Afinal, o que o banco tem a ganhar com isso?

Você. O que o banco tem a ganhar – ou melhor, não perder – é você. Se o seu banco soa um tanto desesperado, é porque ele realmente pode estar. “O PIX”, afirma João Bragança, gerente de Projetos Sênior da consultoria estratégica Roland Berger, “é uma mudança de paradigma para a qual os bancos não estão preparados”.

Segundo um estudo produzido pela consultoria, o impacto do novo sistema de pagamentos no mercado financeiro indica quem serão os ganhadores e perdedores do novo ambiente. Os bancos tradicionais estão no segundo grupo, como mostra o infográfico abaixo.ReproduçãoQuem ganha e quem perde com o PIX, no estudo da Roland Berger. Infográfico: Roland Berger/Reprodução

Isso porque o PIX, ao potencialmente tornar antiquadas questões como pagamentos com cartões de débito, boletos, DOCs e TEDs, vai acirrar ainda mais a concorrência, nunca antes vista num mercado que costumava ser, até então, confortável. E essa concorrência está mais que preparada para competir com os bancos na nova configuração do mercado. “Os bancos sabem que vem aí um choque, mas não estão conseguindo ainda mensurar qual a sua dimensão”, afirma o especialista.

“E não é só o PIX”, lembra Bragança. “Também há o open banking, que deve sair em breve.” A ideia do open banking é criar um ambiente de troca de informações entre instituições financeiras que permitirá, por exemplo, movimentar sua conta bancária a partir de aplicativos de terceiros. É algo que também leva a tornar os bancos tradicionais menos interessantes.

Com o PIX e o open banking, as instituições financeiras tradicionais percebem que seus clientes podem acabar vendo pouco motivo para manterem suas contas correntes, quando pode parecer mais atraente migrar para opções como fintechs, carteiras digitais e outras. Nesse ambiente, ganhar o registro do PIX de um correntista é torná-lo mais ou menos “à prova de futuro”, fidelizá-lo.

Isso é visível em quem domina as inscrições no PIX: o primeiro banco tradicional, o Bradesco, está na quarta colocação.

Reprodução

Números recentes de inscrições no PIX. Infográfico: Banco Central do Brasil/Reprodução 

“Os bancos são muito focados no produto, mas não no cliente”, afirma Bragança. Ele acredita que quem investe mais na experiência do usuário irá sair vitorioso nessa guerra. “Não vai ser um colapso dos bancos tradicionais, mas vai ter mais concorrência”.

Afinal, você deve rejeitar ligar seus números PIX ao seu banco tradicional? Não, necessariamente, mas não é preciso, tampouco, se sentir obrigado a fazer isso. “Meu conselho é: escolha a melhor oferta”, afirma o especialista.

O PIX entra em funcionamento em 16 de novembro.

Mumm Rá é editor(a) no Olhar Digital