Pela primeira vez, cientistas ‘resetam’ células-tronco de mulher com 114 anos

Segundo eles, descoberta será valiosa para encontrar os genes e outros fatores que retardam o processo de envelhecimento
Luiz Nogueira25/03/2020 16h32, atualizada em 25/03/2020 17h11

20200325014546

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Pela primeira vez, cientistas conseguiram reprogramar células-tronco de uma mulher de 114 anos, considerada a doadora mais velha até hoje. O resultado foi obtido após a primeira transformação das células de uma amostra sanguínea em células-tronco pluripotentes induzidas – que têm habilidade de produzir diversas respostas biológicas distintas.

A partir disso, os pesquisadores conseguiram gerar células-tronco mesenquimais. Elas ajudam, principalmente, na manutenção e reparação de tecidos, ossos, cartilagens e gorduras. As células da mulher foram escolhidas como parte de uma pesquisa para determinar se era possível realizar a reprogramação desse material.

Com os resultados obtidos, Evan Snyder, biólogo de células-tronco do Sanford Burnham Prebys Medical Discovery Institute, disse que, com o sucesso da pesquisa, “temos uma ferramenta valiosa para encontrar os genes e outros fatores que retardam o processo de envelhecimento”.

Reprodução

Para a ciência, o tipo mais valioso são as células-tronco embrionárias, mas sua aquisição está ligada à algumas questões éticas. Felizmente, células somáticas ou células-tronco adultas podem ser encontradas em qualquer ser humano e reprogramadas geneticamente para se tornarem pluripotentes – que são quase tão eficientes quando as embrionárias.

A grande questão em relação ao uso dessas células era o tempo em que permaneciam programáveis. Enquanto pesquisas anteriores sugeriam que células-tronco mais antigas não podem ser reprogramadas, nos últimos anos, cientistas conseguiram gerar células pluripotentes a partir do material de pessoas com mais de 100 anos. Porém, até agora, a reprogramação dos supercentenários – pessoas com mais de 110 anos – era um mistério .

Em todo o mundo, há registro de apenas 28 pessoas com essa idade. Por isso, é bastante difícil estudar essa população, não apenas pelo número de amostras disponíveis, mas também por conta de registros científicos, que não possuem muitos dados sobre essa variação.

Processo de reprogramação

Nesse processo, os cientistas descobriram uma propriedade incomum presente nas células dos supercentenários: uma estranha imunidade às doenças crônicas relacionadas à idade, como Alzheimer e Parkinson. Além disso, eles passam por um processo de envelhecimento que, de alguma forma, é mais devagar.

Para tentar entender isso, a equipe reprogramou os linfoblastos de três doadores: a mulher supercentenária, um indivíduo saudável de 43 anos e uma criança de 8 anos com uma condição que causa envelhecimento rápido.

Os resultados foram surpreendentes. Não apenas as células supercentenárias se transformaram em células-tronco pluripotentes com a mesma facilidade que as outras, mas também os telômetros – sequências de DNA ‘protetor’ que ficam nas extremidades dos cromossomos e diminuem à medida que os indivíduos envelhecem – também foram redefinidos para níveis mais jovens.

Com a descoberta, os autores do estudo chegaram à conclusão de “que a idade extrema não é uma barreira absoluta à reprogramação com a restauração do comprimento dos telômetros”. Eles esperam que os resultados obtidos permitam a investigação de como e por qual motivo os supercentenários vivem tanto tempo e são extraordinariamente resistentes a doenças degenerativas.

Via: Science Alert

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital