A vida era boa para os humanos que moravam no Vale do Rift, no leste da África, há 400 mil anos. Água potável era abundante e grandes herbívoros que pastavam na região garantiam o alimento. Até que tudo mudou rapidamente, e essas pessoas tiveram que se adaptar a um ambiente bem mais dinâmico e imprevisível – o que pode ter forçado um salto em sua evolução.

Esse é o resultado das primeiras análises feitas a partir de uma perfuração sedimentar feita no Quênia, que cobre um milhão de anos de história ambiental da região. O estudo, liderado pelo diretor do Programa de Origens Humanas do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian, Richard Potts, e publicado na revista Science Advances, descreve o período de instabilidade nesta parte da África e sua influência na mudança comportamental e cultural da população local.

De acordo com os pesquisadores, ao mesmo tempo que os primeiros humanos estavam abandonando suas ferramentas antigas em favor de uma tecnologia mais sofisticada e ampliando suas redes de comércio, a paisagem em volta sofria mudanças na vegetação e no abastecimento de água. Recursos que antes eram abundantes começaram a ficar escassos e uma instabilidade no clima afetou o solo e o ecossistema.

Além da análise dos sedimentos, a equipe do Smithsonian recuperou artefatos de um sítio arqueológico conhecido como Olorgesailie – alguns datados de 700 mil anos. Muitas dessas ferramentas permaneceram praticamente as mesmas por milênios, mas a partir de cerca de 320 mil anos atrás, as pessoas que lá viviam entraram na Idade da Pedra Média, fabricando armas menores e mais sofisticadas, incluindo projéteis.

Human Origins Program/Smithsonian

Os artefatos mais antigos encontrados no sítio arqueológico contrastam com os objetos mais recentes, menores e mais sofisticados. Imagem: Human Origins Program/Smithsonian

Os grupos humanos locais passaram ainda a comercializar recursos com comunidades distantes e a utilizar materiais para colorir seus objetos. Ao analisar a evolução do solo ao longo do tempo, os pesquisadores acreditam que o clima em mudança, a atividade tectônica da região e rupturas ecológicas na vegetação e na fauna forçaram a inovação tecnológica, o comércio de recursos e a comunicação entre os primeiros humanos desta região.

“A história da evolução humana tem sido de adaptabilidade crescente”, afirma Potts. “Viemos de uma árvore genealógica diversa, mas todas as outras formas de ser humano estão extintas. Resta apenas um de nós, e podemos muito bem ser as espécies mais adaptáveis ​​que já existiram na face da Terra”, completa o pesquisador.

A análise de sedimentos foi feita a partir de uma amostra retirada da bacia de Koora, a cerca de 24 quilômetros de Olorgesailie. Um cilindro de 139 metros foi removido da terra, e mapeando as idades de radioisótopos e mudanças na composição química e depósitos deixados por plantas e organismos microscópicos através das diferentes camadas, a equipe reconstruiu características-chave da paisagem e clima ao longo do tempo.

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Trabalhadores de uma equipe de perfuração em Nairóbi, Quênia, marcam seções de um núcleo sedimentar perfurado na Bacia Koora. Imagem: Human Origins Program/Smithsonian

Os sedimentos mostraram que, após um longo período de estabilidade, o clima nesta parte da África tornou-se mais instável, quando a atividade tectônica fragmentou a paisagem – e todo o ecossistema evoluiu em resposta. Pequenas bacias de água se formaram, mais sensíveis às mudanças nas chuvas do que os grandes lagos que existiam antes. A vegetação também mudou, restringindo a pastagem que alimentava os grandes herbívoros que começaram a morrer e foram substituídos por mamíferos menores com dietas mais diversificadas.

“Houve uma grande mudança na fauna animal durante o período em que observamos a mudança no comportamento humano”, conta Potts. “Os animais também influenciavam a paisagem pelos tipos de plantas que comiam. Então, com humanos na mistura, e algumas de suas inovações como armas de projétil, eles também podem ter afetado a fauna. É todo um ecossistema mudando, com os humanos como parte dele”. 

Via: Smithsonian