Dizem que a moda é cíclica. Estilos que estão em alta hoje, provavelmente estarão defasados amanhã e voltarão a estar em alta depois de mais alguns anos. Na tecnologia, no entanto, essa ideia parece um pouco estranha, já que o ritmo da evolução tende a abandonar algumas tendências de forma definitiva. O lançamento do Motorola Razr e do Galaxy Z Flip, da Samsung, mostram que isso nem sempre é o caso.
Sim, essas empresas mostraram que a tecnologia também pode ter tendências cíclicas. Ideias que foram abandonadas há mais de uma década podem voltar, se o momento ditar que é interessante para que elas voltem. E isso nunca ficou tão evidente.
Primeiro, vamos começar lembrando do primeiro celular disponível comercialmente da história, o DynaTAC 8000X, da própria Motorola, que deu origem à expressão “tijolão” para se referir aos telefones móveis. O apelido era justificável: pesando quase 800 gramas, o dispositivo era gigantesco e pesado, tornando seu uso desconfortável, embora fosse a única opção daquele tempo. Isso nos dá o nosso ponto de partida.
A partir daí, a indústria inteira trabalhou durante décadas para conseguir tornar os celulares menores e mais finos, de forma que eles pudessem ser guardados no bolso e manuseados de forma mais confortável. Essa tendência tem seu auge nos anos 2000, principalmente nos últimos anos antes da revolução do smartphone catalisada pelo lançamento do iPhone.
Fazia todo sentido para a época, claro. Era um momento em que o celular era realmente só um telefone portátil, mesmo que alguns tivessem outras aplicações simples, como calculadora e joguinhos básicos. Não havia necessidade de uma tela grande e as baterias duravam muito graças à funcionalidade limitada, então torná-los menores era torná-los melhores. O celular de flip apareceu nessa época para potencializar a portabilidade, permitindo designs ainda mais compactos e versáteis. O Razr V3, da Motorola, foi o expoente do período: um celular fino, leve e compacto, mas com uma tela grande para a época.
Foi então que começou a era dos smartphones. Os primeiros ainda seguiam uma estética similar à dos celulares comuns. Teclados físicos, telas pequenas, mas o fato é que o formato já não se adequava mais a um novo conceito de telefone portátil. Foi o motivo pelo qual a Apple obteve o sucesso inicial gigantesco com o iPhone, com sua tela multi-touch, que permitiu à companhia tomar o lugar de empresas como BlackBerry, Nokia e Motorola, que viviam seu ápice.
O sucesso do iPhone logo determinou um novo padrão estético para os celulares: adeus flips e adeus teclados físicos. A tela passou a ser a parte principal do smartphone, que começava a ganhar cada vez mais funções: jogos mais avançados, aplicações mais robustas e o consumo de mídia passaram a ser parte da vida dos usuários de smartphones.
Foi quando a indústria começou a perceber que talvez a lógica do passado, de celulares cada vez menores e mais portáteis talvez não valesse mais. Afinal de contas, se a tela se tornou tão fundamental na experiência de usuário, por que não fazer com que ela fique maior? Por um tempo, a Apple tentou lutar contra essa tendência, defendendo que a tela pequena, de até 4 polegadas, era a melhor experiência por permitir o uso do aparelho com uma mão. A empresa não conseguiu, e logo cedeu ao que o resto do mercado fazia.
Então, os celulares começaram a ter telas cada vez maiores, e logo as empresas começaram a enfrentar um novo problema, mas que também já era um velho conhecido: como continuar aumentando a tela sem fazer com que o aparelho fique gigantesco ao ponto de não caber mais nos bolsos das pessoas? Foi quando os smartphones começaram a ter bordas cada vez menores ao redor do painel, o que acabou forçando a adoção de soluções como o “notch”, o corte de parte da tela para abrigar a câmera frontal, que, apesar de visualmente grosseiro, proporcional um aproveitamento de quase 100% da parte da frente dos celulares.
E o próximo passo? Não há como discutir que as empresas continuam querendo fazer telas maiores, mas não há mais bordas para remover dos aparelhos e claramente não há mais como fazer com que os celulares fiquem fisicamente maiores sem prejudicar sua portabilidade. Foi a hora de finalmente tirar da cartola os aparelhos com tela dobrável. Primeiro veio o Galaxy Fold, com sua tela de 7,3 polegadas quando desdobrada. Depois apareceram o Motorola Razr, de 6,2 polegadas, e o Galaxy Z Flip, com 6,7 polegadas, que recorreram a uma estética já bastante conhecida: a do celular de flip.
E faz todo o sentido. O celular, quando dobrado, pode se encaixar tranquilamente no bolso ou em uma bolsa pequena, mas quando desdobrado, conta com uma tela enorme. Isso pode dar alguma liberdade para a indústria continuar expandindo o display por mais algum tempo.
O curioso é que, para isso acontecer, os celulares que estavam cada vez mais finos, precisaram começar a engrossar. O Galaxy Fold tem 1,71 centímetro de espessura quando dobrado, o que é o suficiente para criar um volume grande no bolso de qualquer um. É similar ao que o mede o Galaxy Z Flip, com espessura de 1,73 centímetro. Para comparação, um iPhone 11 Pro Max conta com uma espessura de 0,78 centímetro, o que significa que é possível empilhar dois iPhones e o resultado ainda será mais fino do que o Fold ou o Z Flip. O Razr é um pouco mais fino, mas não muito: 1,4 centímetro.
Ou seja: depois de mais de quarenta anos, os celulares voltaram a ficar grandes e grossos. Claro, os aparelhos de hoje têm muito pouco a ver com o DynaTAC dos anos 1970, mas não há como negar a reversão: se um dia a indústria buscou o menor e mais fino, hoje busca o maior e, por enquanto, isso significa mais grosso. E, claro, o flip, que parecia abandonado, voltou.