Memorando diz que Facebook ignorou contas falsas e seus impactos em eleições

O documento traz informações sobre diversos países e a demora em agir por parte da rede social
Equipe de Criação Olhar Digital15/09/2020 22h05

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Nas eleições em 2018, o Brasil passou por um processo diferente em relação a pleitos anteriores. Uma enxurrada de notícias era compartilhada por perfis falsos em diversas plataformas, na tentativa de manobrar o eleitorado para objetivos específicos. Os Estados Unidos tinham passado por algo semelhante em 2016 e se viram em uma situação ainda mais complicada durante as eleições legislativas de 2018.

Mas não foi exclusividade desses países passar por isso, segundo um documento vazado ao BuzzFeed News Ao menos outros sete países passaram pelo mesmo tipo de desinformação promovida por robôs no gigante Facebook. São eles Honduras, Azerbaijão, Ucrânia, Espanha, Índia, Bolívia e Equador.

O memorando escrito por Sophie Zhang, recentemente demitida segundo o BuzzFeed News, afirma que os decisores da rede social sabiam desse tipo de movimento e demoraram a agir. No caso do Azerbaijão, por exemplo, as investigações tiveram início somente um ano após serem reportados os fatos, caso semelhante a Honduras que viu as lideranças do Facebook esperarem nove meses para tomarem alguma atitude.

Citando Zhang, “Em três anos que estive no Facebook, eu encontrei diversos flagrantes de tentativas de abusar da plataforma em grande escala para enganar seus cidadãos por parte de governos nacionais estrangeiros.” E continua “eu pessoalmente tomei decisões que afetaram presidentes sem supervisão (…) eu sei que eu já tenho sangue nas mãos.”

O documento com mais de 6 mil palavras não foi comentado pela rede de Mark Zuckerberg até o momento dessa publicação.

O Facebook é a maior rede social da rede e dona das plataformas Instagram, WhatsApp e Messenger. luchezar/iStock

No Brasil, uma comissão no congresso investiga o uso dessa estratégia para disseminar informações falsas pelas redes sociais por parte de então candidatos a vagas no executivo e legislativo na chamada CPI das Fake News. Há também um processo investigativo no STF sobre ataques e ameaças feitas contra membros do judiciário, comandado pelo ministro Alexandre de Moraes.

Já nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump enfrentou uma investigação por supostamente ter recebido auxílio russo para manipular as eleições americanas e disseminar notícias falsas contra seus oponentes. A companhia liderada por Zuckerberg tem recebido críticas desde aquela época e esse novo documento traz mais elementos contra as redes pertencentes ao grupo.

Vale lembrar que esse tipo de acusação não é exclusividade do Facebook e redes relacionadas, mas que outros sites também enfrentam. O Twitter recebeu diversas alegações de não reagir a denúncias de perfis falsos e robôs que espalham links com notícias falsas e promovem hashtags específicas. Já a rede de streaming de jogos Twitch recentemente fechou um canal criado por Donald Trump para promover eventos de campanha.

Se as redes sociais tiveram papel fundamental em diversos levantes pelo mundo contra governos autoritários no passado, agora são utilizadas pelos governos em propagandas pró-situação e contra opositores. A ausência de censura que permitiu que o primeiro ocorresse agora permite a manipulação de informações.

Fonte: CNET