Uma pesquisa feita (pdf) por uma comissão de especialistas em saúde e tecnologia no Reino Unido mostrou que os médicos estão usando o aplicativo Snapchat para compartilhar dados de pacientes. Essa atitude, pouco recomendável do ponto de vista ético e de segurança dos dados, acaba sendo uma alternativa encontrada pelos médicos para contornar problemas de infraestrutura.
A pesquisa foi conduzida, segundo o Guardian, sob encomenda da DeepMind Health (DMH), uma empresa de inteligência artificial da qual o Google é dono. A DMH está trabalhando junto com o sistema de saúde pública do Reino Unido (o NHS) para usar sua tecnologia para ajudar médicos a dar diagnósticos mais precisos. O levantamento tinha o objetivo de analisar a relação dos médicos com as tecnologias de que eles já dispõem.
Métodos arcaicos
Um dos achados da pesquisa foi que esse hábito dos médicos é, em parte, um reflexo da falta de tecnologia nos hospitais em que atuam. Segundo o documento, “a revolução digital basicamente passou batida pelo NHS, que, em 2017, ainda retém a honra dúbia de ser o maior comprado de máquinas de fax do mundo”.
Por isso, “médicos já estão criando suas próprias alternativas tecnológicas. Eles usam o Snapchat para mandar imagens de exames de pacientes entre si, e câmeras para registrar detalhes das informações dos pacientes num formato conveniente”. Mas, segundo o levantamento, trata-se de uma atitude compreensível: “É difícil criticar esses indivíduos, já que isso é o que torna seu trabalho possível”.
Riscos
Mesmo assim, o estudo reconhece que a prática é pouco recomendável. “Trata-se de uma maneira insegura, arriscada e não-auditável de se trabalhar, e [ela] não pode continuar”, dizem os autores. De fato, o NHS foi um dos primeiros e principais afetados pelo WannaCry, o malware que afetou milhares de computadores no mundo todo em maio.
Há também uma preocupação ética em torno do uso das informações médicas dos pacientes. Segundo o Guardian, essa questão já criou problemas para a DeepMind Health no Reino Unido. Uma decisão das autoridades britânicas desta semana determinou que o modo como a DMH lidou com os dados dos pacientes foi contra a lei, já que os pacientes não foram devidamente informados.
Embora o estudo tenha sido feito sobre o sistema de saúde pública do Reino Unido, é fácil imaginar que as preocupações que ele expõe se aplicam também a outros sistemas nacionais de saúde. E que elas podem ser ainda mais graves em países com menor uso de tecnologia nesses sistemas médicos.