Medicamento para transplantados pode aumentar a vida dos cães

Estudos preliminares já mostraram que o imunossupressor rapamicina alongou a vida média de ratos em até 14% - novos testes poderão comprovar sua eficácia em cães e outros mamíferos
Renato Mota15/06/2020 18h16, atualizada em 20/06/2020 13h00

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Um medicamento inicialmente desenvolvido para diminuir os riscos de rejeição de um órgão transplantado em humanos pode ajudar cães a ter uma vida mais longa. As pesquisas relacionadas ao imunossupressor rapamicina podem, em último caso, ajudar também na melhoria da qualidade de vida de seres humanos.

Os estudos vêm sendo conduzidos por cientistas do Dog Aging Project (Projeto de Envelhecimento Canino), que busca entender como genes, estilo de vida e ambiente influenciam o envelhecimento dos animais. Uma das líderes do projeto, a veterinária Kate Creevy busca medir objetivamente o envelhecimento dos cães, uma vez que “até agora ninguém se propôs a praticar a gerontologia canina”, afirma.

Matt Kaeberlein, professor de patologia na faculdade de medicina da Universidade de Washington e principal pesquisador do projeto, vem estudando tratamentos antienvelhecimento com rapamicina desde 2006, inicialmente em vermes e moscas. Em 2009, um artigo na Nature mostrou que o medicamento poderia aumentar a vida útil de camundongos de meia-idade entre 9% e 14%.

“Parece haver processos moleculares compartilhados no processo de envelhecimento que atravessam muitos organismos diferentes”, afirma Kaeberlein. Estudos em humanos, porém, enfrentam um problema: vivemos tanto tempo que levaria pelo menos uma geração para descobrir os resultados. Por isso, as cobaias precisam ser próximas dos humanos biologicamente, mas com uma vida mais curta.

A partir de 2011, Kaeberlein se uniu ao biólogo Daniel Promislow (que com veterinária Kate Creevy forma o trio que lidera o Dog Aging Project) para pesquisar os efeitos dos tratamentos antienvelhecimento em cães. Esses animais atendem aos critérios das pesquisas, por terem uma expectativa de vida média de cerca de uma década e exposição diária a um ambiente de vida humano, com suscetibilidade natural a muitas dos mesmos problemas, como doenças cardíacas e câncer.

“Isso me interessou em pensar nos cães como um modelo para o envelhecimento”, lembra Promislow. “Observar a relação entre tamanho do cão e expectativa de vida pode ser uma maneira de encontrar genes associados a doenças do envelhecimento e da longevidade”. A ideia do projeto é, durante a próxima década, coletar perfis genéticos e dados de exames veterinários de centenas de animais cujos donos colaborarão de forma voluntária.

A hipótese de trabalho dos pesquisadores é que a rapamicina tem como alvo processos que contribuem para uma variedade de doenças relacionadas ao envelhecimento. Se, durante a pesquisa, o medicamento atrasar o aparecimento de câncer em golden retrievers e doenças cardíacas nos pinschers, Kaeberlein afirma que terá encontrado evidências de que “existe uma biologia molecular do envelhecimento” comum a todos os cães e possivelmente outros mamíferos.

Em um estudo que está em curso, Kaeberlein administrará a rapamicina ou um placebo a 500 cães de meia idade por três anos. Ao comparar a vida útil dos cães sob a droga com os que comem placebos, o pesquisador diz que será capaz de determinar se seu tratamento realmente funciona.

Uma pesquisa mais recente, conduzido pelo próprio Kaeberlein em duas dúzias de cães de meia idade, testando os efeitos colaterais da rapamicina, observou evidências de mais atividade cardíaca nos animais e um comportamento afetuoso – o que pode ser interpretado como uma melhora na cognição.

Via: Discover

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital