Jovens que ficam mais de 9h online têm risco de ansiedade aumentado

Exagero no uso das redes sociais resulta em tristeza, angústia, ansiedade e estresse
Vinicius Szafran22/11/2019 17h38, atualizada em 22/11/2019 18h40

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Mais da metade dos jovens brasileiros diz que exagera no uso de tecnologias, e isso afeta suas emoções. Os dados são da pesquisa Tecnologia e o Jovem, feita pela equipe do psiquiatra Jairo Bouer, que aponta também que aqueles conectados por mais de nove horas por dia apresentam um risco 2,4 vezes maior de apresentar tristeza, ansiedade, angústia e estresse, em comparação a quem fica menos de duas horas.

No total, 3305 alunos de 53 escolas (41 privadas e 12 públicas) de todas as regiões do país foram entrevistados por meio de um questionário online, ao longo de quatro meses (entre maio e agosto de 2019). O estudo trouxe alguns dados que não são necessariamente ligados ao uso da tecnologia, mas merecem atenção: 25% dos jovens já provocaram algum tipo de automutilação; quatro em cada dez já pensaram em tirar a própria vida e cerca de um em cada dez já tentou suicídio. Além disso, 35% já ficaram tristes ou assustados por comentários postados em seus perfis, mais da metade já se sentiu desprestigiada nas redes e pouco mais de 18% já foram vítimas de cyberbullying.

Segundo Bouer, há uma série de fenômenos que podem explicar essa relação: o aumento da exposição, de comentários agressivos e da sensação de desprestígio. “A sensação de que podem curtir ou não chama atenção para a autoestima. Eles já têm questões muito grandes nesse aspecto e as redes sociais pioram”, diz ele.

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O coordenador do Grupo de Dependências de Tecnologia do Instituto de Psicologia da USP, Cristiano Nabuco, diz que na juventude é normal as pessoas dependeram da opinião do outro. De acordo com Ivete Gattás, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Unifesp, quanto mais os jovens ficam nas redes, menos vivem a vida real. Ela diz que eles vivem em um “mundo paralelo”, mas esse mundo perfeito vicia e faz mal.

Esse ciclo vicioso também afeta a saúde física. O indivíduo come mal porque não quer se desconectar, para de se exercitar, tem privação de sono. Bouer compartilha a ideia de Gattás de que a conexão exagerada aumenta o número de faltas, piora as notas e eleva o risco de reprovação.

O ideal para um jovem de 13 a 17 anos é dormir de 8 a 10 horas por dia. É nesse momento de sono que hormônios reguladores são liberados e os neurônios se reorganizam para melhorar suas conexões e performance. Além disso, muitas das memórias do que foi aprendido durante o dia são registradas e guardadas à noite. O jovem que dorme mal não usa o máximo de seu potencial cognitivo, além de poder engordar e crescer menos que o esperado.

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O estudo conclui que os números apontam para uma geração que parece sofrer mais. Nabuco acredita, porém, que não dá para cravar isso apenas com os dados disponíveis. “Mas temos números representativos. Desde o momento que as redes sociais se fizeram presentes no Brasil, em 1996, o número de automutilações subiu 166% nas meninas, por exemplo.”

Para Bouer, as redes sociais trazem uma comparação constante com o outro, e isso afeta a autoestima. A Associação Americana de Pediatria recomenda que os responsáveis evitem dar tablets e smartphones para crianças até os três anos. Após essa idade, o uso deve ser feito por períodos pequenos, controlados e que façam parte de outras atividades. “Hoje, essas crianças ficam oito, dez, onze horas ligadas. Deixam de cultivar amigos de verdade, as relações familiares se deterioram. Isso aumenta o sofrimento, sim”, diz Gattás. O sofrimento vem acompanhado da exposição a situações de violência, sexualidade e erotismo de maneira muito mais precoce do que seria na vida real.

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A pesquisa mostra que, segundo os alunos, mais de 66% das escolas trabalham a questão do bullying, 48% discutem álcool e drogas, 35% abordam sexualidade e 65% falam sobre os riscos do uso de tecnologias.

Bouer afirma que controlar o tempo de conexão ou senha dos filhos diminui a exposição e impacta menos no emocional. No estudo, os pais têm a senha de quase 40% dos jovens e cerca de 25% deles têm seu tempo de conexão controlados.

Gattás sugere que regras em casa, como não usar os eletrônicos no jantar, podem ajudar. Também é importante levar os jovens para realizar atividades mais divertidas do que mexer no celular. Nabuco acredita que o engajamento parental é um dos pilares para a criação de uma cultura digital.

Fonte: UOL

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital