O governo das Ilhas Salomão anunciou a aprovação de uma medida no mínimo controversa: o banimento total do Facebook por todo o seu território, sob justificativa de “evitar o cyberbullying” e “proteger os jovens”. No entendimento do governo, o Facebook vem sendo amplamente usado em ataques sem controle a figuras exemplares de autoridades.

“O cyberbullying no Facebook é generalizado, as pessoas já foram difamadas por usuários que empregam nomes falsos, e a reputação das pessoas, que foi construída ao longo de anos, foram destruídas em uma questão de minutos”, disse o primeiro-ministro, Manasseh Sogavare, ao jornal ABC Australia.

Oposição rechaça a medida

Diversos movimentos organizados por representantes do povo, bem como partidos de oposição ao governo atual, criticaram a medida, alegando que a equipe ministerial a aprovou como uma forma de silenciar vozes opositoras. O líder da oposição e chairman do comitê de relações internacionais, Peter Kenilorea Jr., chamou o banimento de “um ataque ousado e direto à liberdade de expressão”.

Outros críticos ainda apontam uma possível influência da China na medida. Durante anos, as Ilhas Salomão reconheciam Taiwan como uma nação independente. Entretanto, o governo de Sogavare preferiu aproximar-se de Beijing, efetivamente considerando Taiwan uma parte da República Popular da China, onde o Facebook é banido – ao menos, oficialmente – há décadas.

Reprodução

As Ilhas Salomão são um arquipélago com mais de 900 ilhas, lideradas por um governo centralizado que quer banir o Facebook por completo do país. Foto: Oliver Foerstner/Shutterstock

“Relatos de um banimento ou suspensão do Facebook são uma grave preocupação para as Ilhas Salomão, um país democrático”, disse Kenilorea. “O Comitê está estrangulando o direito que deveriam estar promovendo. “Como líderes, nós precisamos ter responsabilidades com o eleitorado que nos elege para posições de poder. Precisamos dançar conforme a música de tempos em tempos. Isso é democracia”.

A ironia é que o próprio governo das Ilhas Salomão faz amplo uso do Facebook: anúncios de medidas e práticas de segurança contra a Covid-19, por exemplo, são primariamente comunicadas pela rede social. Entretanto, os ministros que governam o país argumentam que a rede social é usada por oposicionistas para organizar piquetes e tumultos – uma situação relativamente recorrente desde que Sogavare foi eleito, em 2015.

Há ainda outro problema. A proposta foi aprovada pelo gabinete, mas em uma evidente representação da expressão “jogar gasolina ao fogo”, ela não menciona como o banimento seria executado e monitorado, a partir de quando ele teria efeito, ou ainda por quanto tempo ele deve durar.

O Facebook foi procurado para comentários, mas não respondeu às solicitações da mídia.

Fonte: ABC Australia / The Guardian