Ferramenta de edição genética é testada pela primeira vez dentro do corpo humano

Técnica CRISPR está sendo utilizada para tratamento de uma doença genética rara que causa cegueira na primeira infância
Renato Mota05/03/2020 10h42

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Um paciente que sofre de uma condição genética rara chamada amaurose congênita de Leber, que causa cegueira na infância, foi o primeiro a ser tratado com o uso da ferramenta de edição de genes CRISPR dentro do corpo. Gotículas de fluido com DNA editado foram injetadas no globo ocular do paciente, durante procedimento no Instituto de Saúde e Ciência do Oregon, Estados Unidos.

A equipe médica não deu detalhes sobre o paciente ou quando a cirurgia ocorreu. De acordo com os pesquisadores, pode levar até um mês para ser constatado se o método realmente funcionou para restaurar a visão. Se o resultado for positivo, os médicos estão prontos para realizar mais testes em 18 crianças e adultos.

A técnica com CRISPR permite cortar pedaços do DNA para suprimir a atividade de um gene que esteja prevenindo o corpo de um paciente de lutar efetivamente contra a doença. Testes em seres humanos já constataram a segurança da técnica, que promete desde a cura do câncer até impedir extinção das bananas, mas seu uso tem causado debates sérios, especialmente sobre a possibilidade de produção de “bebês por encomenda“.

“Temos literalmente o potencial de levar as pessoas que são essencialmente cegas e fazê-las ver”, acredita Charles Albright, diretor científico da Editas Medicine, uma empresa de norte-americana que desenvolve o tratamento. “Acreditamos que poderia criar um novo conjunto de medicamentos para alterar o DNA”, completa.

A amaurose congênita de Leber é causada por uma mutação genética que impede o corpo de produzir uma proteína necessária para converter luz em sinais no cérebro, o que permite a visão. Eles geralmente nascem com pouca visão e podem perder até isso dentro de alguns anos. Os cientistas pretendem, com o tratamento, editar ou excluir a mutação fazendo dois cortes em ambos os lados da cadeia genética. A esperança é que as extremidades do DNA se reconectem e permitam que o gene funcione como deveria.

O procedimento levou uma hora, sob anestesia geral. Através de um tubo da largura de um fio de cabelo, os médicos pingam três gotas de líquido que contém o mecanismo de edição de genes logo abaixo da retina, o revestimento na parte de trás do olho que contém as células sensíveis à luz.

Os pesquisadores avaliam que reparar um décimo a um terço das células já seria o suficiente restaurar a visão. Em testes em animais, os cientistas foram capazes de corrigir metade das células com o tratamento. A cirurgia ocular em si apresenta pouco risco, dizem os médicos.

Via: Associated Press

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital