Os diversos “deslizes” de privacidade, controle de conteúdo e segurança de navegação renderam ao Facebook um intenso processo de investigação, que já se arrasta por mais de um ano no Legislativo norte-americano. E parece que ser o alvo disso tudo está mudando significativamente as visões de Mark Zuckerberg sobre a internet e seus problemas. Tanto é que, agora, o CEO da companhia defende, com todas as letras, que reguladores globais  – incluindo governos – tenham um “papel mais ativo” na rede.

Em artigo publicado no último sábado, nos sites do Washington Post e do Ireland’s Independent, Zuckerberg afirma que uma intervenção é vital para proteger tanto o bem-estar dos usuários quanto os valores fundamentais de uma internet aberta e livre. O CEO também pede que autoridades definam, em âmbito global, regras mais claras quanto a “conteúdo nocivo, integridade eleitoral, privacidade e portabilidade de dados.” Para ele, os Estados Unidos precisam de uma legislação à moda europeia.

Sem dúvida, estas são as declarações mais fortes do executivo sobre este assunto. Todo dia, segundo Zuckerberg, o Facebook é obrigado a lidar com “decisões acerca de discursos ofensivos, o que constitui propaganda política ou não e como prevenir ciberataques sofisticados”, por exemplo. Ele ressalta a importância desse trabalho, mas pondera: “se estivéssemos começando do zero, não iríamos pedir que companhias fizessem esses julgamentos sozinhas”.

O texto, também publicado no Facebook, condensa, de certa forma, o efeito dos dois últimos anos de profundos ataques à companhia e de crescente desconfiança com suas inúmeras falhas de conduta: na prevenção de interferência estrangeira nas eleições dos EUA, na proteção adequada dos dados dos usuários e na supressão de discursos de ódio e outros tipos de conteúdo ofensivo na plataforma. 

Mudança de rumos

No mês passado, Zuckerberg anunciou abertamente a mudança de planos do Facebook, que se voltaria a produtos focados em conversas privadas e mensagens criptografadas – atendendo assim a desejos dos usuários, segundo ele. Essa é mais uma evidência de que o CEO da rede social está aderindo gradualmente à necessidade do estabelecimento de regras pelo governo. Mesmo que isso signifique responsabilizar o Facebook e concorrentes por falhas na moderação de conteúdo e na segurança dos dados.

Muitas das recomendações de Zuckerberg exigem cooperação internacional, como a sua proposta de que governos no mundo todo adotem regras próximas ao GDPR da Europa – considerado um dos mais rigorosos do planeta por causa dos seus requisitos de privacidade e da sua política de segurança de dados. Segundo o CEO do Facebook, isso viria para “assegurar que a internet não seja fraturada.”

Outros executivos de tecnologia, como Tim Cook, CEO da Apple, e Sundar Pichai, chefe do Google, também sugerem que os Estados Unidos trabalhem por mais privacidade nas redes. Dessa forma, a adesão de Zuckerberg à regulação de privacidade e a uma moderação mais rigorosa de conteúdo e dos dados de usuários ecoa propostas feitas anteriormente por seus adversários.

“As pessoas não deveriam depender de empresas individuais para resolver essas questões sozinhas”, concluiu Zuckerberg em seu editorial. “Devemos ter um debate mais amplo sobre o que queremos como sociedade e como a regulamentação pode ajudar.”

Fonte: Wall Street Journal