No ano passado, uma paciente intrigou médicos e cientistas ao acordar de um período de coma de 27 anos em um hospital nos Emirados Árabes. A mulher ficou inconsciente após ser vítima de um acidente de carro em 1991.

Embora não seja único, o caso é um episódio raro. Existem pouquíssimos relatos de pacientes que conseguiram retomar a consciência depois de tanto tempo em coma. A ciência, por sua vez, investiga atividades cerebrais para entender como nosso corpo reage nesse estado.

Um novo paper divulgado na revista científica “Neuron”, no dia 05 de fevereiro, apontou novas pistas sobre as regiões do nosso cérebro responsáveis pela consciência que podem ajudar a desenvolver métodos para acordar pessoas do coma no futuro.

O experimento conduzido por pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison identificou uma pequena zona cerebral em macacos que ao ser estimulada contribui para que os primatas inconscientes retomem os sentidos.

Para isso, os cientistas introduziram eletrodos no cérebros dos animais e monitoraram as atividades simultâneas de várias partes do órgão, enquanto os macacos estavam acordados, anestesiados e em sono profundo.

O experimento chamou a atenção dos pesquisadores para um pequena área do cérebro chamada tálamo centro lateral, que estaria associada à consciência.

Fonte: Anatomiadocorpo.com

Em seguida, eles usaram uma técnica chamada “estimulação profunda do cérebro” em macacos anestesiados para estimular essa região específica com choques elétricos. Diferente de experimentos realizados anteriormente, a equipe de pesquisadores utilizou um eletrodo muito menor que o convencional para garantir um estímulo mais preciso e localizado.

Assim que iniciavam os estímulos, os macacos reagiam quase imediatamente. “Com apenas dois segundos de estimulação, os animais começavam a abrir seus olhos, apresentar movimentos corporais e sinais voluntários”, disse Yuri Saalman, autor do estudo. “O animal olhou em volta como se tivesse acordado de um estado de anestesia comum, apesar de receber mais doses de anestesia continuamente”, completou Saalman.

No entanto, os macacos voltavam ao estado de inconsciência assim que os choques elétricos eram interrompidos.

Futuro da pesquisa

A estimulação profunda do cérebro é um método comum no tratamento de doenças neurológicas, como Mal de Parkinson, e também já foi testado em pacientes em coma, mas não alcançou resultados satisfatórios.

Em 2007, um grupo de neurocientistas da faculdade de Weill Cornell Medical, liderados por Nicholas Schiff, apontaram em estudos que o estímulo da área geral do tálamo fez um paciente readquirir um estado mínimo de consciência, que restauraram habilidades limitadas de fala e movimento.

O novo estudo da Universidade de Wisconsin sugere que o estímulos devem ser mais precisos especificamente na parte centro lateral do tálamo.

Além disso, há uma diferença fundamental na pesquisa liderada por Saalmann. O grupo utilizou frequências de 50 hertz, diferente dos 100 hertz geralmente usados em outros estudos do tipo.

Antes de testar o método em humanos, os pesquisadores de Wisconsin planejam ainda conduzir mais experimentos em macacos com o objetivo de prolongar o período de consciência e atribuir aos animais tarefas mais complexas.

Outros pesquisadores reconhecem que o estudo apresenta descobertas importantes, mas alertam que a questão sobre o estímulo do tálamo ainda está aberta e é preciso também medir possíveis danos aos pacientes.

Fonte: One Zero