Um implante permitiu que uma mulher cega enxergasse imagens de baixa resolução durante seis meses. Conectado ao córtex visual, parte traseira do cérebro ligada à visão, o aparato utiliza um óculos modificado e uma câmera para transformar as imagens capturadas em sinais eletrônicos.
Bernadeta Gómez, uma mulher de 57 anos, é a única pessoa que experimentou o implante até agora. Cega desde os 42, quando uma neuropatia óptica tóxica destruiu os feixes de nervos que conectam os olhos ao cérebro, foi só com o aparato eletrônico que Gómez conseguiu identificar luzes, formas básicas impressas em papéis e pessoas.
A primeira vez que Gómez enxergou após a doença que acometeu sua visão foi em 2018, época em que Eduardo Fernandez, diretor de neuroengenharia da Universidade de Miguel Hernandez, na Espanha, estava começando a aplicar seus estudos na área. Seu objetivo principal era – e ainda é – restaurar a visão do maior número possível das 36 milhões de pessoas cegas ao redor do mundo.
Com as pesquisas baseadas em restaurar a visão a partir do sistema nervoso, a ideia de Fernandez se diferencia das demais soluções ópticas para cegos que, no geral, tentam criar olhos e retinas artificiais a fim de substituir o órgão ou parte dele. O problema é que, na maioria das vezes, isso está relacionado ao sistema nervoso, como é o caso de Gómez, e soluções superficiais não resolvem, daí a importância dos estudos de Fernandez.
“Berna foi nossa primeira paciente, mas nos próximos anos instalaremos implantes em mais cinco pessoas cegas”, explicou Fernandez. “Fizemos experimentos semelhantes em animais, mas um gato ou um macaco não podem explicar o que está vendo”.
Apesar de ter sido uma cirurgia arriscada em um corpo saudável, o procedimento do implante deu certo e só teve de ser removido seis meses depois por ainda não ser aprovado para uso a longo prazo. “O sistema imunológico do corpo começa a quebrar os eletrodos e cercá-los com tecido cicatricial, o que acaba enfraquecendo o sinal”, disse Fernandez, que acredita que o implante possa durar de dois a 10 anos sem falhar, mas sem real confirmação.
O processo para devolver a visão de pacientes por meio do aparato criado por Fernandez não é simples: demanda retinas humanas de doadores de órgãos para testes, machine learning, uma matriz com 100 minúsculos eletrodos e calibragem personalizada para cada pessoa. Ainda assim, é uma das melhores chances que cegos afetados por problemas no sistema nervoso têm para poder sair por aí enxergando letras, portas e calçadas sem maiores preocupações.