O Banco Central iniciou na segunda-feira (1º) a etapa de homologação e testes obrigatórios de instituições financeiras interessadas em operar na plataforma de pagamentos instantâneos PIX. Com lançamento previsto para novembro deste ano, o sistema promete transações seguras com período de liquidação de poucos segundos, sem restrições de datas ou horários.

A modalidade ainda vai incluir soluções de pagamentos por QR Code e permitirá que usuários façam operações informando apenas dados simples do recebedor, como e-mail, número de celular e CPF ou CNPJ. Os bancos e fintechs terão liberdade para definir o preço cobrado pelo serviço, com a proposta de fomentar a competição no mercado financeiro.

Entre as instituições que já integram os testes da plataforma de pagamentos está o Banco Original. Em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, o diretor executivo de TI da instituição, Raul Moreira, comentou sobre as próximas etapas de desenvolvimento do PIX, os desafios tecnológicos e sociais da ferramenta e quais são as perspectivas da empresa acerca do futuro método de transações.

Novas relações e experiências

Segundo Moreira, o PIX deve provocar mudanças em como as pessoas se relacionam com outras no âmbito financeiro, e também vai alterar experiências de compras e serviços. Para o executivo, no entanto, o principal desafio do sistema é formar uma cultura de uso dos pagamentos instantâneos, em que a comunicação sobre o funcionamento do PIX será um pilar fundamental para o sucesso da plataforma.

ReproduçãoCronograma de desenvolvimento do PIX. Imagem: Banco Central

OD: O Banco Original está entre as instituições financeiras que hoje testam o PIX. Qual o panorama destes testes e como o Original tem apresentado soluções neste contexto?

Raul Moreira: O envolvimento do Original com o Pix envolve três aspectos. O primeiro é que o Original já nasceu com os conceitos de Open Bank, com o intuito de fazer ligações com sistemas externos e prover serviços mais instantâneos possíveis. A construção do PIX está totalmente alinhada com a nossa estratégia.

O segundo ponto é que nós olhamos os pagamentos instantâneos como uma nova forma das pessoas interagirem em aspectos financeiros. O PIX vai permitir que, somente com os dados de e-mail [do recebedor], por exemplo, eu envie uma remessa financeira para uma pessoa e ela receba o valor quase instantaneamente.

O sistema também traz um novo dinamismo de como consumidores usam o celular para compras no comércio. O PIX prevê o uso de QR Codes, sedimentando uma nova forma de pagamento, inclusive sem contato, algo que a gente está vendo que é uma tendência para o período pós-pandemia de Covid-19. E o terceiro aspecto é que o Original já está se posicionando como um participante do PIX apto a oferecer serviços para outras fintechs.

OD: Como seria esse serviço? Vocês vão abrir para outras fintechs aplicarem estruturas do Original em seus próprios aplicativos?

A regulação do PIX permite que um participante direto provenha o acesso a participantes indiretos. Para novas fintechs, é muito caro ou complexo se conectar diretamente na infraestrutura do Banco Central. Nós estamos conectados ao sistema de pagamentos instantâneos e por meio de APIs vamos disponibilizar para fintechs que fecharem acordos com o Original a oportunidade de utilizar essa infraestrutura de conexão. Isso vai permitir que as pequenas empresas ofereçam o serviço para seus clientes.

OD: Em relação aos testes, qual é o cronograma? O que o Banco Original está desenvolvendo neste momento?

Na etapa de testes que começou agora em junho, as instituições vão simular todo o ciclo de liquidação financeira. Vamos escolher alguns clientes para fazer os testes e simular o envio de uma remessa financeira. Esse dinheiro sai da conta do pagador, passa pelo sistema SPI, do Banco Central, e cai na conta de outro banco. Então, teremos a confirmação da transação e da compensação financeira.

Queremos verificar como funciona a performance da transação e se estamos cumprindo todos os elementos da regulação. Ainda vamos fazer testes sobre o sistema de QR Codes. São testes muito críticos para entender como toda a plataforma vai funcionar. No futuro vamos testar o desempenho das operações em larga escala.

OD: Esses testes já contemplam a integração desses sistemas aos aplicativos das instituições financeiras, por exemplo o app do Banco Original?

A ideia é já simular também como funcionaria o PIX em uma versão beta do aplicativo, toda a parte de interação e experiência do usuário. Esses recursos já foram desenvolvidos. Nós também vamos, entre junho e setembro, testar bastante, junto com alguns consumidores, como será a experiência de uso do PIX no dia a dia. Isso é muito importante, porque não adianta você desenvolver uma transação muito eficiente e muito segura, se a solução não for compatível na parte de experiência do usuário.

OD: Em toda essa etapa de desenvolvimento do PIX, já foram identificadas barreiras ou desafios tecnológicos para implementação do sistema?

No caso do Original, não há desafios técnicos. Nossa plataforma já foi construída baseada em serviços digitais do mercado de tecnologia. Acredito que o grande desafio é como construir uma experiência e uma forma de comunicação com o consumidor, para que ele entenda o sistema. A questão dos pagamentos instantâneos é um recurso muito novo para os consumidores.

É preciso, por exemplo, comunicar a ideia que dados de e-mail e celular agora serão chaves para a transferência de recurso. Por isso, prevemos testar até setembro toda essa parte de interação do usuário para poder medir quais serão os desafios da parte de comunicação e da formação da cultura do uso de pagamentos instantâneos no Brasil.

OD: O senhor citou o uso do e-mail e número de celular como chave de recurso. Mas como tudo isso deve funcionar dentro de um aplicativo?

O app do Original vai apresentar as funcionalidades de pagamentos instantâneos. Uma delas corresponde ao cadastramento das chaves de registro. O usuário então vai ter a possibilidade de fazer transferências para outras pessoas usando a agenda do seu celular, desde que o contato também tenha chaves cadastradas no diretório do Banco Central, mesmo que por outro banco ou instituição.

Veja que aí o grande desafio é o usuário entender o que ele deve fazer para realizar o pagamento. O grande salto em termos de experiência, por outro lado, é que o usuário não precisará saber os dados bancários do recebedor.

Outro desafio é criar a cultura de uso do QR Code no comércio. O usuário poderá chegar em um estabelecimento e usar o aplicativo para ler um código. O dinheiro vai sair da conta do pagador e será instantaneamente creditado na conta do estabelecimento comercial. Será necessário comunicar como o QR Code do Banco Central vai funcionar nessas ocasiões. Portanto, eu diria que o grande desafio do PIX será a formação da cultura de pagamentos instantâneos, seja na transferência entre pessoas ou seja na compra junto ao comércio.

OD: O pagamento utilizando as chaves de registro impõem novas questões de segurança aos bancos e fintechs?

O Banco Central tem dado uma atenção muito especial na questão da segurança cibernética. Nós, do Original, estamos tranquilos sobre questões de segurança porque, no nosso app, as transações serão autenticadas com recursos de biometria facial, que traz um nível de segurança altíssimo. A gente já utiliza isso atualmente para transações de alto valor. É um recurso que os clientes já entendem muito bem. No contexto do PIX vamos utilizar, tanto para transferências entre contas pessoais e compras, uma tecnologia de biometria facial apoiada por um sistema de inteligência artificial para garantir que o usuário é realmente quem está fazendo a operação.

OD: E como o PIX deve impactar na atração de novos clientes para bancos e fintechs?

O Banco original quer se posicionar com um dos principais bancos provedores de transações instantâneas no mercado. Isso será atribuído às instituições que se posicionarem e promoverem, de forma ágil e consistente, o PIX entre seus clientes e não clientes, porque o PIX pode ser também um instrumento de inclusão financeira.

OD: Qual seria o impacto do PIX na inclusão financeira?

Um dos grandes desafios é fazer a inclusão dos mais de 50 milhões de brasileiros que não tem uma conta corrente completa. O PIX e o Open Bank vão promover uma maior competição no mercado financeiro, e aí você tem um provimento de melhores serviços a um custo mais adequado. Ao mesmo tempo, isso facilita que mais pessoas tenham uma conta em bancos ou fintechs e possam gerenciar melhor o uso do seu dinheiro.