Cuidado: apps estão vendendo a localização precisa de seus usuários

Daniel Junqueira12/12/2018 15h23, atualizada em 12/12/2018 15h25

20171010110600

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Sua localização exata pode estar sendo constantemente vendida pela internet, dependendo dos aplicativos instalados no seu celular. Uma reportagem do jornal New York Times mostrou como diversos aplicativos gratuitos que oferecem serviços como previsão do tempo e placar esportivo coletam e comercializam informações pessoais de usuários para empresas terceiras.

Quem tiver acesso a essas informações pessoais é capaz de monitorar cada passo que você dá. Os sistemas usados por esses aplicativos coletam dados precisos e anônimos da sua localização e enviam para servidores. Essas informações são atualizadas a cada dois segundos, em média.

Assim, uma caminhada matinal pelo bairro pode ser registrada em detalhes: cada passo dado desde que saiu do portão de casa, o tempo parado na banca de jornal, a passagem rápida pela padaria, e depois o retorno para o lar. Cada um desses momentos é coletado por esses apps, e depois analisado e usado para fins de publicidade, promoções, entre outras coisas.

As solicitação de acesso a localização desses aplicativos muitas vezes é justificada pelos serviços oferecidos. Um aplicativo de previsão do tempo, por exemplo, precisa saber onde você está para oferecer informações úteis – ele precisa saber que você está em São Paulo, e não no Rio de Janeiro, para dizer se vai chover ou não.

De acordo com a reportagem do The New York Times, ao menos 75 empresas atuam na área, em um mercado que movimenta US$ 21 bilhões anualmente somente na área de publicidade por localização. Apenas nos Estados Unidos, cerca de 200 milhões de dispositivos móveis são monitorados por esses sistemas.

Riscos para as massas

Dependendo de quais mãos essas informações pessoais caiam, elas podem ser usadas para fins bastante perigosos – como acompanhar todos os passos dados por uma pessoa, ou até mesmo para manipulação política.

Empresas envolvidas na área se defendem dizendo que o objetivo não é de identificar pessoas, e sim padrões. Ao entender como as pessoas fazem tarefas do cotidiano – onde moram, por onde costumam passar, quais lugares frequentam – elas podem usar essas informações para direcionar publicidade que esteja de acordo com interesses da pessoa.

Os dados não são vinculados a números de telefone ou nomes, mas são a IDs únicos. É um pouco mais complicado, mas ainda assim é possível identificar uma pessoa sem consentimento, e verificar a rotina diária dela sem que ela saiba. Isso graças ao fato de que as informações coletadas são extremamente específicas, o que permite triangular a fonte dos dados de forma bastante precisa.

Além disso, os dados também podem ser usados para manipulação política. Em uma situação hipotética, uma empresa poderia coletar dados de aparelhos que tenham comparecido a uma manifestação a favor de determinada causa. Com isso, essas companhias conseguiriam enviar informações direcionadas a pessoas com crenças parecidas para manipular massas.

O caso é mais um exemplo de como nossos dados são frágeis e não temos controle sobre absolutamente nada que fazemos no celular ou na internet, e como é fundamental a implementação de leis de proteção de dados como as da União Europeia e até mesmo a brasileira. Nossos dados pessoais estão entre os bens mais valiosos da atualidade – e não é por menos que empresas que trabalham diretamente com isso estejam cada vez mais poderosas e influentes.

Ex-editor(a)

Daniel Junqueira é ex-editor(a) no Olhar Digital