Criador da internet, Tim Berners-Lee diz estar ‘preocupado’ com o futuro dela

Redação16/11/2017 13h09, atualizada em 16/11/2017 14h12

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Em uma entrevista concedida ao Guardian, o criador da internet, Tim Berners-Lee, disse que teme pelo futuro de sua criação. De acordo com ele, a rede vem enfrentando problemas sérios, como leis que desafiam sua liberdade, uma economia de publicidade danosa e uma epidemia de notícias falsas e designformação. E esses problemas podem colocar o futuro da web em xeque.

“O sistema está falhando. A maneira como a receita de publicidade funciona com conteúdos caça-clique não está realizando o objetivo de ajudar a humanidade a promover a verdade e a democracia. Por isso, eu estou preocupado”, disse Berners-Lee. Não se trata de uma percepção nova dele: o criador da rede já vem criticando esse sistema desde, pelo menos, 2010.

Manipulando nossa atenção

Um dos problemas mais graves que ele identifica na rede atual é a maneira como os sistemas de publicidade manipulam a atenção dos usuários para direcionar tráfego para determinados locais. “As pessoas estão sendo distorcidas por inteligências artificiais cuidadosamente treinadas que descobrem como distraí-las”, afirmou.

“Temos essas propagandas obscuras que me atingem e me manipulam e depois desaparecem porque eu não posso favoritá-las. Isso não é democracia – isso é colocar pessoas nas mãos das empresas mais manipulativas que existem”, considerou. Sistemas de inteligência artificial, de fato, já estão sendo usados até mesmo para colocar publicidade em carros.

Berners-Lee também se preocupa com que esse sistema seja manipulado para funcionar de maneiras antiéticas. O Facebook, por exemplo, já admitiu que não vê problema em que seus usuários promovam posts que contém notícias falsas. Atitudes como essa, considera o criador da internet, geram renda para as empresas às custas de valores como veracidade e pluralidade.

Liberdade em queda

A entrevista aconteceu por ocasião da visita de Berners-Lee a Washington para aconselhar os legisladores estadunidenses a rejeitar uma proposta de lei que desmontaria as garantias de neutralidade da rede nos Estados Unidos. Essas leis, segundo ele, são outro dos obstáculos que a internet enfrenta atualmente.

“Quando eu inventei a internet, eu não precisei pedir ao Vint Cerf [o “pai da internet”] que me desse permissão para usá-la”, contou. A ideia, de acordo com ele, é manter a rede “um espaço sem necessidade de permissões para criatividade, inovação e livre expressão”.

Nesse sentido, ele acredita que a internet deve ser tratada como uma utilidade básica, como eletricidade, água ou gás: as empresas que oferecem esses serviços não ligam para qual uso você faz deles. A internet, de acordo com Berners-Lee, deve seguir o mesmo princípio: “ela é uma parte da vida, e ela não devia se importar com para quê ela está sendo usada”.

Resto de otimismo

Mesmo com esses problemas, o criador da internet diz que ainda é um otimista. “Mas um otimista em pé no topo de uma montanha com uma tempestade feia soprando na minha cara, agarrado a uma cerca”. Ele continua: “precisamos cerrar os dentes e segurar firme à cerca, e não tomar por garantido que a rede vai nos levar a coisas maravilhosas”.

Há muitos motivos para que Berners-Lee se preocupe: um relatório de liberdade da rede publicado recentemente revelou que as restrições ao uso da internet aumentaram em boa parte do mundo ao longo do último ano – incluindo no Brasil. Ao menos, o criador da internet não está tão descrente do futuro da rede quanto Peter Sunde, um dos criadores do Pirate Bay, que considera que “tudo deu errado”.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital