O Departamento de Economia, Competitividade e Tecnologia da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) concluiu nesta semana que a indústria brasileira de transformação perdeu participação no PIB (Produto Interno Bruto) do país desde o final de 2009. A queda moveu o país para patamares semelhantes ao da década de 1950 e o movimento, puxado pelo encolhimento dos segmentos de alta tecnologia, mostra como estamos seguindo um movimento contrário ao das tendências mundiais.
A participação da indústria de transformação mundial no PIB global passou de 15,1% para 16,4% de 2009 a 2017. No mesmo período, no Brasil, o setor viu sua fatia na economia encolher de 15,3% para 12,2%. Esse percentual caiu para 11,3% no fim de 2018 e voltou aos níveis da década de 1950. Hoje, está abaixo do verificado em países como Argentina (12,2%), México (17,5%) e Coreia do Sul (27,6%).
O vice-presidente da Fiesp e presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), José Ricardo Roriz Coelho, afirma que o processo de desindustrialização no Brasil se dá em um momento em que o mundo passa por uma nova revolução industrial e países desenvolvidos e emergentes lutam para atrair investimentos de alta tecnologia.
“É uma disputa desses países para estar à frente na digitalização do processo industrial. Eles têm tido incentivos para investimentos em máquinas e equipamentos com conectividade, inteligência artificial, manufatura aditiva, que é impressão em 3D, visando sair na frente nesse novo processo industrial”, afirma Roriz.
Ele ainda ressalta que os benefícios fiscais dados pelos governos na última década não chegaram à indústria de transformação, mas a poucos grupos, e não é esse o caminho para destravar o setor. “O Brasil deveria ter carga tributária menor no setor produtivo e no investimento, segurança jurídica maior, energia a preço competitivo”, analisa Roriz.
O estudo ainda mostrou que a indústria tem uma produtividade 32% maior que os demais setores da economia, responde por 18% do emprego privado formal, 20% da massa salarial e 27% dos investimentos, além de representar 70% dos recursos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Portanto, quem tem a maior chance de reverter a situação vivida atualmente é este setor.
Segundo a instituição, se a indústria brasileira de transformação tivesse acompanhado a tendência mundial, o crescimento acumulado do PIB de 2010 a 2017 teria sido de 18,5%, 65% maior do que os 10,7% verificados. “A crise atrasou a entrada do Brasil nesse mundo digital. O país ficou ao largo disso porque as empresas estavam muito preocupadas com sua sobrevivência financeira, investiram pouco em inovação e tecnologia”, afirma.
Em agosto do ano passado, o crescimento da indústria nesse recorte começou a recuar e, desde então, o setor vem perdendo fôlego. Em fevereiro, ficou estável e em março apresentou a primeira retração, de 0,2%.
Via: Folha de S. Paulo