Após anos de atraso, pagamento por aproximação ganha fôlego no Brasil

Aos poucos, pagamento via NFC, seja por meio de cartões habilitados para a tecnologia, seja por smartphones, começa a fazer parte da cultura do comércio nacional
Renato Santino28/01/2020 23h38, atualizada em 29/01/2020 00h00

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Há muitos anos, o Olhar Digital já falava sobre pagamentos em NFC. A tecnologia não é nem de longe nova, mas demorou alguns anos para começarmos a ver sua popularização no Brasil. Só agora, depois de tanto tempo falando sobre o assunto, a tecnologia “contactless” começa a fazer parte da cultura do comércio nacional.

Pense bem: se você tem um cartão habilitado para pagamentos por aproximação, quantas vezes no último ano o caixa se ofereceu para simplesmente aproximar o cartão de crédito da maquininha, sem haver sequer a necessidade de digitar a senha? Para quem mora em centros urbanos, essa realidade já não é mais surpresa.

Se você já teve a impressão de que o pagamento via NFC está se popularizando, você não está doido: os números também atestam essa tendência. De acordo com a Mastercard, ao longo de 2019 foram registrados quase 70 milhões de pagamentos realizados por aproximação no período entre janeiro e novembro. O número pode não ser assombroso em relação ao volume total de transações feitas com cartão ao longo de um ano (na casa das dezenas de bilhões), mas o crescimento ainda impressiona: a quantidade é 9 vezes maior do que havia sido registrado ao longo do ano todo de 2018.

A maioria esmagadora desses 70 milhões ainda é feita com o próprio cartão que esteja habilitado para o NFC. Segundo o estudo, ao longo do mês de novembro, 72% de todas as transações por NFC foram feitas com cartões, enquanto 28% foram feitas por meio de smartphones e smartwatches habilitados com carteiras digitais como o Apple Pay, Samsung Pay e Google Pay. Se a proporção de 28% se mantivesse ao longo do ano inteiro, isso indicaria que foram feitos cerca de 19 milhões de pagamentos por aproximação de celular.

A popularização ainda passa por alguns obstáculos que devem ser solucionados com o tempo. Poucos cartões em uso atualmente são habilitados para o uso com NFC. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), apenas 5,5% dos cartões em circulação estão preparados para uso por aproximação.

Da mesma forma, não é tão fácil assim utilizar o celular para fazer pagamentos por aproximação. Ainda que o estranhamento inicial com a tecnologia tenha passado e os atendentes já tenham se adaptado a ver as pessoas pagando com o smartphone, ainda é necessário que o banco dê a liberação para o uso com as carteiras virtuais, e isso é um processo um pouco lento. Basta lembrar que o Nubank, usado por 20 milhões de brasileiros, ainda não dá suporte a Apple Pay, Google Pay e Samsung Pay, mesmo recebendo diariamente comentários da sua base de clientes por meio das redes sociais pedindo a habilitação da função. Também não são todos os celulares que possuem NFC, e a maior parte da população brasileira procura os smartphones mais acessíveis, que normalmente não contam com a tecnologia.

Mas é seguro?

Quando a discussão sobre pagamentos por aproximação aparece, a primeira dúvida do público é relacionada à segurança da tecnologia. Como se garante que ninguém vai se aproveitar disso para roubar o dinheiro dos usuários?

Primeiro, o mercado instituiu um limite para pagamentos pré-autorizados por aproximação, e você pode fazer o teste. Se você tentar fazer uma compra de mais de R$ 50, será obrigado a digitar a senha do seu cartão, da mesma forma que você faria se tivesse inserido o cartão na máquina normalmente. Desta forma, na pior das hipóteses, um ladrão ou golpista obterá no máximo R$ 50 indevidamente. Também existe um limite de transações feitas sem senha em um dia.

Existem outras formas de garantir a segurança do cartão. Por exemplo: uma tecnologia chamada “faixa de leitura restrita” faz com que seja impossível ler as informações do cartão ou outro dispositivo habilitado com NFC se a máquina de leitura não estiver a menos de 4 centímetros de distância. Isso dificulta bastante, por exemplo, que alguém aproxime um leitor do bolso de uma vítima sem que ela perceba para roubar seu dinheiro.

Já quando se paga com um celular, existe uma camada extra de segurança. O usuário que quer usar uma carteira virtual para pagar alguma coisa por aproximação precisa, necessariamente, se autenticar antes de o pagamento ser processado. Assim, os valores só são confirmados se a pessoa souber a senha do aparelho ou puder passar pela verificação biométrica, seja pela leitura de impressão digital, seja pelo reconhecimento facial.

Existe também o processo conhecido como “tokenização” para garantir que ninguém seja capaz de extrair as informações permanentes do seu cartão por meio de aproximação. No momento do pagamento, quando cartão e máquina se juntam, é gerado um token, um código válido por apenas um uso para fazer com que o pagamento seja aprovado. Em nenhum momento a máquina tem contato com as informações como número do seu cartão, data de validade e código de verificação, o que dificulta a clonagem.

E quais as vantagens?

Por que a indústria de tecnologia e as empresas de cartão apostam tanto no NFC, afinal de contas? Não é muito difícil de entender. O negócio das companhias é facilitar ao máximo as transações, que é a forma como elas conseguem lucrar com suas operações. O pagamento por NFC é bastante conveniente neste sentido.

Para as lojas que recebem o pagamento, também faz algum sentido privilegiar o pagamento por NFC. Isso porque a aprovação instantânea da transação, sem necessidade de senha, faz com que as filas andem mais rápido, potencialmente ampliando o número de clientes atendidos em um dia, diminuindo o número de pessoas que desistem de comprar algo por não quererem esperar em fila.

A concorrência esquenta

O NFC mal começou a se tornar mais popular no comércio e as empresas já estão tentando estabelecer uma nova tecnologia que pode tomar o seu lugar. Graças ao investimento pesado de algumas startups como PicPay, Ame e MercadoPago, o pagamento por leitura de QR Code e código de barras começa a tomar algum fôlego.

A ideia dessa tecnologia dispensa qualquer tipo de aproximação ou contato. A ideia é simples: você abre o aplicativo de pagamento no seu celular e escaneia um código que normalmente está perto do caixa ou na própria máquina de cartão, ou tem o seu código escaneado pelo lojista. A partir deste momento, as duas partes estão vinculadas, bastando definir o valor a ser transferido na transação. Em alguns casos, a própria leitura do código já inclui o preço a ser pago, diminuindo ainda mais a burocracia.

Esse método de pagamento ainda engatinha, mas mostra potencial principalmente pela estratégia agressiva de divulgação adotada pelas empresas. Não são poucos os aplicativos que oferecem descontos e quantias altas de cashback para quem decide utilizar a modalidade de QR Code para pagamento, efetivamente subsidiando o valor pago por um produto ou serviço. A estratégia pode não ser sustentável a longo prazo, mas proporciona exposição e divulgação do serviço, que pode contribuir para a ampliação da base de usuários.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital