Ann Syrdal, pioneira na pesquisa de síntese de voz, morre aos 74 anos

Com seu trabalho nos laboratórios da AT&T, a pesquisadora ajudou a dar à tecnologia vozes mais femininas, hoje popularizadas por meio das assistentes virtuais
Renato Mota20/08/2020 22h44

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A psicóloga e cientista da computação Ann Syrdal faleceu de câncer aos 74 anos, em sua casa em San Jose, na Califórnia. Como pesquisadora da AT&T, ela ajudou a lançar as bases para assistentes virtuais digitais modernas, como Siri e Alexa.

Seu trabalho no desenvolvimento do “text-to-speech” (TTS), que converte a entrada de texto padrão em saída de voz audível, começou em meados dos anos 1980. A AT&T já produzia vozes sintéticas através da Bell Labs desde a Feira Mundial de 1939 em Nova York. Porém, a tecnologia não acompanhou a evolução da computação, e mesmo 40 anos depois ainda era relativamente primitiva.

“Parecia robótico”, lembra Tom Gruber, criador do assistente digital que se tornou a Siri quando a Apple adquiriu a solução em 2010. Em 1990, empresas começaram a implantar esses novos sistemas, permitindo que os deficientes auditivos, por exemplo, gerassem fala sintética para ligações. As vozes, entretanto, soavam masculinas.

“Todos eles pensavam que uma voz feminina era apenas uma versão de frequência mais alta da voz masculina, mas isso nunca funciona”, lembra H.S. Gopal, pesquisador que trabalhou ao lado de Syrdal. “Os engenheiros homens simplesmente não levavam a fala feminina tão a sério“, completa.

Foi nesse cenário que Syrdal desenvolveu uma voz feminina: Julia – um resultado muito mais difícil de se alcançar, uma vez que boa parte do trabalho de engenharia anterior havia sido feito para vozes masculinas. Dez anos depois, a pesquisadora fez parte da equipe da Bell Labs que desenvolveu o sistema Natural Voices, considerado o modelo para síntese de fala na indústria.

“Tenho orgulho da qualidade de voz natural sem precedentes do sistema TTS que estamos desenvolvendo na AT&T Labs Research e de poder fazer contribuições substanciais para esse esforço. Em particular, estou orgulhosa do trabalho que fiz para melhorar a qualidade de síntese da voz feminina (que, por vários motivos, foi um desafio maior do que a síntese da voz masculina). Nossa equipe de TTS criou o que acredito ser a primeira voz sintética feminina verdadeiramente de alta qualidade”, escreveu Ann Syrdal em seu perfil no site EngineerGirl, criado para dar mais visibilidade e representatividade para meninas e mulheres que querem seguir a carreira científica.

Em 2008, Syrdal foi nomeada membro da Acoustical Society of America, em reconhecimento às suas contribuições para a síntese da fala feminina, que agora faz parte da vida cotidiana, graças a Siri e Alexa.

Via: New York Times

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital