Uber é processada por sistema de classificação de motoristas

Um ex-colaborador está processando a empresa por suspender motoristas parceiros com base nas avaliações dos clientes que, supostamente, podem ter viés racista
Redação28/10/2020 16h59, atualizada em 28/10/2020 17h44

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Na segunda-feira (26), um ex-motorista da Uber na Califórnia (EUA) processou a empresa alegando que seu sistema interno de classificação de motoristas facilitaria a discriminação racial.

Thomas Liu, de San Diego, entrou com uma ação federal nos Estados Unidos alegando que foi desativado como motorista de Uber em 2015, quando sua avaliação de passageiros caiu abaixo de 4,6.

PXhere/Reprodução

Ex-motorista da Uber relatou no processo que sofria discriminação por sua origem asiática e seu leve sotaque. Imagem: PXhere/Reprodução

“A Uber está ciente de que os passageiros são propensos a discriminarem os motoristas em suas avaliações, mas continua a usar esse sistema, tornando-a responsável por discriminação racial intencional”, diz a queixa de Liu.

Potenciais clientes, segundo Liu, cancelavam passeios depois de verem sua foto e perguntarem sobre sua origem de forma hostil.

Processo foi motivado por discriminação

Sob o sistema de avaliação da Uber, os clientes classificam os motoristas em uma escala de 1 a 5 estrelas. O que os clientes podem não saber é que a empresa suspende motoristas que ficam abaixo de uma classificação média aparentemente arbitrária.

No processo, o ex-motorista relatou que, quando sua classificação caiu abaixo de 4,6 em 2015, a Uber o desativou. Ele alegou, também, que os clientes davam avaliações baixas, devido a sua origem asiática e seu leve sotaque.

Além disso, ele aponta que a própria Uber sabe que os passageiros podem considerar seu preconceito no momento de classificar os motoristas e que eles tendem a discriminar as minorias raciais. Esse argumento foi incluído no texto, pois foi o mesmo utilizado pela empresa para não adicionar gorjeta no aplicativo há alguns anos.

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Passageiros podem avaliar motorista com base em seus próprios preconceitos. Imagem: /Reprodução

“A discriminação do cliente não é uma desculpa para as empresas também praticarem discriminação”, disse Shannon Liss-Riordan, advogada de Liu.

A Uber, de fato, só lançou a opção de dar gorjetas no aplicativo em 2017, seis anos após o início do serviço de caronas.

O processo de Liu visa representar uma classe de motoristas com queixas semelhantes. A ação federal foi movida no Distrito Norte da Califórnia sob a Lei de Direitos Civis de 1964, mas as proteções antidiscriminação dessa lei se aplicam apenas aos funcionários fixos.

A Uber há muito tempo sustenta que seus motoristas não são funcionários, mas empreendedores. No entanto, o processo argumenta que a Uber trata seus motoristas não como contratados independentes, mas como funcionários, mantendo-os em padrões específicos de qualidade, exigindo treinamento e fixação de salários.

A companhia há muito tem criado uma vasta gama de ferramentas para gerenciar seus motoristas, desde truques psicológicos sutis que incentivam mais condução a um sistema de supervisores algorítmicos que ditam quando, onde e como dirigir. A empresa alega que os motoristas não são essenciais para seus negócios, mas há anos está claro que seu modelo de negócio precisa desses condutores, visto que a Uber é uma empresa de caronas.

Reivindicação reincidente

Há quatro anos, Liu apresentou as mesmas reivindicações à Comissão de Igualdade de Oportunidades aos Funcionários dos EUA, que em agosto se recusou a tomar uma posição sobre sua queixa. Isso permitiu que ele levasse o processo a um tribunal federal.

A Uber considerou a ação frágil e alega ter facilitado o acesso justo e equitativo ao trabalho e ao transporte.

A ação de Liu ocorre em um momento de decisão sobre a Proposição 22, da Lei AB 5, que consolidaria o status dos motoristas de carona como empreendedores independentes ao invés de funcionários.

Os eleitores da Califórnia participarão da votação sobre esse assunto na próxima terça-feira (3). Essa Lei exige que empresas de ‘gig economy’ como Uber, Lyft e Doordash, ofereça proteção de horas extras, salário-mínimo, reembolso de quilometragem e benefícios de saúde aos seus colaboradores.

Se a Proposta 22 for aprovada, a Uber – outras empresas semelhantes – deverão pagar um valor de 20% sobre o tempo em que se presta serviço de direção.

A ação judicial de Liu é muito importante, porque os sistemas de classificação semelhantes ao Uber também são encontrados em plataformas de shows como Handy, TaskRabbit e Amazon Home Services. Além disso, também pode ser visto nas indústrias de hotelaria, restaurante, varejo, serviços e cuidados. Dessa forma, outros profissionais podem ser expostos a uma situação parecida em outras áreas.

Com o processo do ex-motorista, cada vez mais, os usuários desses serviços poderão avaliar apenas os serviços dos profissionais, não classificá-los com base no preconceito.

Fonte: Vice

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital