Tratamento com cloroquina não reduz letalidade da Covid-19, indica pesquisa da Fiocruz

Estudo na Amazônia envolveu 81 pacientes em estado grave, com taxa de mortalidade de 13%; sem o medicamento, a média global fica entre 18% e 20%
Renato Santino07/04/2020 17h14, atualizada em 07/04/2020 17h30

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Desde o primeiro experimento sobre a eficácia da cloroquina no tratamento da Covid-19, pesquisadores do mundo inteiro estão correndo para realizar testes mais amplos para validar essa hipótese. No entanto, estudos preliminares da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação de Medicina Tropical não encontraram diferença significativa na taxa de letalidade entre os pacientes tratados com e sem o medicamento.

O protocolo de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina determina que o medicamento seja utilizado apenas em pacientes que apresentem quadros graves. Dentro deste cenário, os pacientes no estado do Amazonas que receberam o tratamento viram uma taxa de letalidade de 13%: 11 dos 81 pacientes tratados morreram.

Segundo o líder da pesquisa, Marcus Lacerda, infectologista da Fiocruz Amazônia, os números são pouco animadores. Globalmente, a taxa de mortalidade para quem se encontra neste estado avançado da Covid-19 e recebe um tratamento convencional fica entre 18% e 20%; pode parecer uma melhoria estatística, mas para Lacerda, o resultado fica dentro da margem de confiança. Ou seja: a variação é pequena demais para que seja possível descartar de forma segura uma coincidência.

Os resultados preliminares permitiram algumas conclusões mais assertivas sobre a dosagem do medicamento. Como explica o G1, os 81 pacientes foram divididos em dois grupos: um recebeu uma dose mais alta do medicamento, como tem sido feito na China, enquanto a outra metade recebeu doses mais leves, seguindo os protocolos dos Estados Unidos e outros países.

“Identificamos que a dose muito alta, feita por 10 dias, levou mais pacientes para a internação. Então estamos nesse estudo desaconselhando que sejam usadas altas doses. A toxicidade é muito alta. Fizemos monitoramento cardíaco desses pacientes. A cloroquina, numa dose mais alta, pode dar arritmias graves e levar à morte”, de acordo com Lacerda.

Os estudos ainda estão em andamento, e os resultados divulgados até o momento são preliminares, então as pesquisas ainda podem trazer novas conclusões sobre o medicamento, como aponta a Folha de S. Paulo.

Outros resultados

Na última semana, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, se dividiu em relação a um estado publicado no New England Journal of Medicine, dos Estados Unidos. Na quinta-feira (2), ele afirmou que os resultados eram promissores, mas no dia seguinte retrocedeu e disse que a pesquisa era muito frágil.

Enquanto isso, na Suécia, hospitais estão deixando de usar a cloroquina em pacientes com Covid-19 devido aos seus efeitos colaterais severos. Entre os relatos mais preocupantes estão pacientes com dores de cabeças fortíssimas e até mesmo com perda de visão.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital