Pesquisadores no Reino Unido anunciaram nesta sexta-feira (5) que optaram por interromper experimentos com a polêmica hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19. Os cientistas apontaram que não perceberam qualquer benefício no uso da droga ao longo de quase três meses de testes.
A hidroxicloroquina fazia parte de um programa de investigação de tratamentos chamado Recovery iniciado em março, utilizando um critério randomizado para condução dos experimentos.
Durante os testes com a hidroxicloroquina, foram observados 4.674 pacientes, sendo que 1.542 foram incluídos no protocolo de tratamento com o medicamento, e o restante serviu como grupo de controle, recebendo apenas cuidados médicos convencionais. Os pesquisadores não perceberam diferença significativa entre os dois grupos, tanto em relação à mortalidade quanto em tempo de internação.
Os dados preliminares mostram que, no grupo de pacientes que recebeu a hidroxicloroquina, houve uma mortalidade de 25,7% após um período de 28 dias, enquanto os pacientes que receberam um tratamento convencional foram a óbito em 23,5% dos casos, de forma que a taxa de risco da droga foi calculado em 1,11.
Diante dessa percepção, os pesquisadores não incluirão novos pacientes nos testes com hidroxicloroquina, e os experimentos serão encerrados. Os pesquisadores prometem divulgar os resultados completos em breve.
“A hidroxicloroquina e a cloroquina receberam muita atenção e têm sido usadas muito amplamente para tratar pacientes de Covid apesar da ausência de qualquer evidência forte. O teste Recovery mostrou que a hidroxicloroquina não é um tratamento eficaz em pacientes hospitalizados com Covid-19.Apesar de ser desapontante que este tratamento se mostrou ineficaz, isso permite dedicar nossos focos, cuidados e pesquisas em drogas mais promissoras”, declara o professor Peter Horby, da Universidade de Oxford, que coordena o experimento.
Em declarações à imprensa, os pesquisadores foram um pouco mais firmes, como relata a agência Reuters. “Este não é um tratamento para Covid-19. Não funciona”, afirmou Martin Landray, outro responsável pelos estudos. “Este resultado deveria mudar a prática médica no mundo inteiro. Nós já podemos parar de usar uma droga que é inútil”, concluiu.
Os testes do Recovery continuarão em andamento para outros tratamentos. Entre eles estão:
- Lopinavir-Ritonavir (usados contra o HIV)
- Baixas doses de dexametasona (esteroide usado para reduzir inflamação)
- Azitromicina (antibiótico comum)
- Tocilizumabe (anti-inflamatório injetável)
- Plasma de convalescentes (com sangue de doadores que se recuperaram da Covid-19)
Polêmicas recentes
A hidroxicloroquina teve alguns resultados promissores em estudos de pequena escala no início da pandemia, mas desde então a maioria dos estudos conduzidos com números mais amplos demonstrou resultados que não apoiam as conclusões iniciais.
No entanto, alguns desses estudos se tornaram polêmicos nos últimos dias. A revista científica The Lancet publicou uma pesquisa com 96 mil pacientes apontando aumento no risco de morte pelo uso do medicamento em pacientes, o que fez com que a OMS suspendesse seus estudos com a hidroxicloroquina, assim como aconteceu com outros experimentos pelo mundo. Posteriormente, no entanto, os pesquisadores se retrataram, alegando não serem capazes de garantir a veracidade dos dados utilizados em sua análise, adquiridos de uma outra empresa.
Apesar de a pesquisa na The Lancet ter sido invalidada por essas questões, isso não muda os outros estudos publicados sobre o assunto apontando a ineficácia do medicamento. A interrupção dos experimentos no Reino Unido, por exemplo, em nada têm a ver com a pesquisa retratada.