Pesquisadores reconstroem aparência de espécie humana extinta

A reconstrução foi possível devido à análise do DNA presente em um dedo mindinho e em uma mandíbula
Luiz Nogueira20/09/2019 16h36

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Usando um osso de mindinho, alguns dentes e a parte de baixo de uma mandíbula, dois arqueogeneticistas, Liran Carmel e David Gokman, da Universidade Hebraica de Jerusalém, reconstruíram a imagem dos misteriosos denisovanos – espécie humana extinta – a partir das evidências genéticas encontradas. Os denisovanos são categoriados como um grupo de hominídeos que possuem relações com os neandertais.

A reconstrução só foi possível devido ao fragmento do osso de um dedo que foi encontrado na Caverna Denisova, na Sibéria, em 2010. Estima-se que o fóssil possui mais de 80 mil anos e pertenceu a uma adolescente de aproximadamente 13 anos. Além disso, uma mandíbula, encontrada no Platô Tibetano, mostrou que os denisovanos tinham uma estrutura dentária diferente dos neandertais, principalmente se tratando dos molares.

Apesar de apresentar algumas diferenças dos neandertais, os denisovanos também são uma ramificação de uma espécie ancestral de mais de 800 mil anos. Por esse motivo, algumas semelhanças físicas incluindo a face alongada e a pelve larga.

Para exemplificar os resultados, Carmel contratou a ilustradora científica Maayan Harel para reconstruir um crânio 3D. A partir disso, foi possível criar uma imagem final da aparência da jovem denisovana.

Maayan Harel

Como a reconstrução de DNA foi feita

Os pesquisadores extraíram o DNA presente no dedo mindinho e fizeram comparações com o material genético de dois neandertais, muitos humanos modernos e chimpanzés. Com isso, foi possível realizar uma análise comparativa envolvendo dezenas de amostras. Para definir as características que diferem os denisovanos, os pesquisadores usaram um método chamado de metilação de DNA.

“A metileção de DNA se refere às modificações químicas que afetam a atividade de um gene, mas não a sequência do DNA subjacente”, explicou Carmel. A equipe então comparou os padrões de metilação entre os grupos de humanos modernos para definir as regiões no genoma que sofreram modificação.

Com base nisso, eles procuraram por diferenças que podem significar as características anatômicas de cada indivíduo.

“Ao fazer isso, podemos obter uma previsão de quais partes do esqueleto foram afetados pela regulação diferencial de cada gene e em que direção essa parte esquelética mudaria – por exemplo, um fêmur mais longo ou mais curto”, disse Gokhman em um comunicado.

Maayan Harel

Ao todo, foram encontradas 56 características anatômicas atribuídas exclusivamente aos denisovanos. Para determinar a precisão de sua técnica, os pesquisadores reconstruíram um chimpanzé e um neandertal com base nas informações extraídas de suas comparações.

Com esse processo, foi alcançada uma precisão de 85%, que é o mesmo nível que está sendo atribuído à reconstrução do homem denisovano. Como sinal de que o método é preciso, a mandíbula reconstruída correspondeu quase que perfeitamente à mandíbula encontrada.

“Mais uma ressalva é que os dados genéticos dos genomas fósseis e modernos sugerem que os denisovanos tinham uma história evolutiva profunda, com o desenvolvimento de uma variação genética considerável em toda a sua extensão reconstruída no leste e sudeste da Ásia”, disse Chris Stringer, um antropólogo do Museu de História Nacional de Londres, ao site Gizmodo. “Na realidade, é provável que a anatomia deles tenha mostrado variações substanciais no espaço e no tempo.”

Mesmo com todo o embasamento, Carmel reconhece que suas descobertas podem ser refutadas no futuro. Por enquanto, essa é a única representação disponível de como os denisovanos se pareciam.

Via: Gizmodo

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital