Ao adicionar apenas alguns pares de DNA ao genoma de bovinos leiteiros, uma startup norteamericana criou uma maneira de garantir que os animais nunca desenvolvessem chifres. Se bem sucedida, a modificação eliminaria a necessidade, hoje aplicada por muitos fazendeiros, de queimar os chifres das vacas, um procedimento difícil e doloroso para os animais. Porém, a técnica teve alguns efeitos colaterais inesperados.
Cientistas da Food and Drug Administration (FDA), que analisaram mais de perto a sequência do genoma de um dos animais editados, descobriram que ele contém um trecho de DNA bacteriano, incluindo um gene que confere resistência a antibióticos.
A empresa utilizou plasmídeos – um tipo de mini-cromossomo circular presente nas bactérias – para transmitir instruções de DNA para a celúla. Porém, eles deveriam permanecer lá apenas temporariamente.
Não está claro se o DNA bacteriano representa um risco maior. É improvável que afete a vaca ou a pessoa que consuma sua carne. Em vez disso, a preocupação é que o gene de resistência a antibióticos possa ser absorvido por qualquer um dos bilhões de bactérias presentes no intestino ou no corpo de uma vaca.
A adição do trecho de DNA passou desapercebida pela empresa, que garantia que eram 100% bovinos e criticou a FDA (Food and Drug Administration, equivalente á nossa Anvisa) quando a organização sugeriu que os animais deveriam ser regulamentados. “Não era algo esperado, portanto procuramos por isso”, diz Tad Sontesgard, CEO da Acceligen, uma subsidiária da Recombinetics, empresa que é dona dos animais. Ele diz que uma verificação mais completa “deveria ter sido feita”.
Regulamentação de animais transgênicos
A Recombinetics tem lutado fortemente para retirar toda a pesada regulamentação do governo dos EUA sobre a modificação de genes de animais. Desde o início ela se opõe à atuação da FDA, que categoriza animais editados por genes como novos medicamentos que precisam de extensos testes e aprovação.
Contudo, a descoberta de genes bacterianos no DNA dos animais da Recombinetics tira a confiança da startup. Isso prova que o procedimento, destinado a fazer alterações pontuais no DNA, pode introduzir mudanças inesperadas significativas sem que ninguém perceba. “À medida que a tecnologia de edição do genoma evolui, o mesmo ocorre com o entendimento das alterações não intencionais que produz”, escreveram os cientistas da FDA.
O risco da engenharia aleatória não é apenas para animais de curral. Tratamentos de edição de genoma para curar doenças raras estão sendo testados em pessoas e é possível que os pacientes acabem com mutações genéticas não planejadas
Este ano, a Organização Mundial da Saúde disse que quaisquer outras tentativas de editar genes humanos seriam “irresponsáveis”, em parte por causa da incerteza técnica.
Via: Technology Review