Persas já faziam precursor do aço inox há quase mil anos, diz estudo

Uma análise microscópica em peças de carvão encontradas no sul do Irã descobriu vestígios do crômio utilizado na fabricação de ligas de aço do século 11 d.C.
Renato Mota07/10/2020 16h00

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O aço inoxidável como o conhecemos hoje foi criado no início do século 20, na Inglaterra. Mas pesquisadores encontraram indícios de uso de uma liga de ferro e crômio bastante semelhante ao aço inox – mas com quase de mil anos de idade. A descoberta, publicada no Journal of Archaeological Science, foi feita com o auxílio de uma série de manuscritos medievais da Pérsia, que levaram os pesquisadores a um sítio arqueológico em Chahak, no sul do Irã.

“Esta pesquisa não só fornece as primeiras evidências conhecidas da produção de aço cromado datando do século 11 d.C., mas também fornece um rastreador químico que pode ajudar na identificação de artefatos similares em museus ou coleções arqueológicas desde sua origem em Chahak”, acredita a autora do estudo, a arqueóloga Rahil Alipour.

Chahak é descrita em uma série de manuscritos históricos que datam do século 12 ao 19 como um famoso centro de produção de aço – mas sua localização exata permaneceu um mistério, uma vez que vários vilarejos no Irã levam o mesmo nome. O manuscrito “al-Jamahir fi Marifah al-Jawahir” (“Um Compêndio para Conhecer as Gemas”, datado dos séculos 10 a 11 d.C.), escrito pelo polímata persa Abu-Rayhan Biruni, é um desses documentos, que detalha ainda uma receita de fabricação de aço – mas registra um ingrediente misterioso, chamado de “rusakhtaj”.

Rahil Alipour/UCL

Análise microscópica da amostra recolhida em Chahak. Imagem: Rahil Alipour/UCL

A equipe de arqueólogos usou datação por radiocarbono em uma série de peças de carvão recuperadas do sítio arqueológico para confirmar sua produção como tendo sido feita entre os séculos 11 e 12 d.C. Usando microscopia eletrônica de varredura, os pesquisadores identificaram restos do mineral cromita, descrito no manuscrito de Biruni como um aditivo essencial para o processo.

As partículas de aço analisadas continham entre 1% e 2% de cromo – portanto, não eram inoxidáveis como as ligas modernas, que possuem entre 11% e 13% do material. “Em um manuscrito persa do século 13, o aço Chahak era conhecido por seus padrões finos e requintados, mas suas espadas também eram frágeis – portanto, perderam seu valor de mercado”, explica Thilo Rehren, coautor do estudo.

Os pesquisadores acreditam que isso marca uma tradição distinta de fabricação de aço separada dos métodos tradicionais utilizados na Ásia Central. “As evidências anteriores pertencem a centros de produção de aço na Índia, Sri Lanka, Turcomenistão e Uzbequistão”, disse Alipour. “Nenhum destes, porém, apresenta qualquer vestígio de cromo. Isso é muito importante, pois agora podemos procurar esse elemento em objetos e rastreá-los de volta ao seu centro de produção ou método”, completa.

Via: Gizmodo

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital