Neurônios podem se adaptar para resistir a doenças graves, diz estudo

Consideradas células com capacidade limitada de adaptar seu metabolismo energético, uma pesquisa mostrou que os neurônios podem ativar um modo de 'resiliência' quando atacados por certas doenças
Renato Mota31/08/2020 16h23

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A perda progressiva da estrutura ou funcionamento dos neurônios, incluindo a morte da célula, em certos casos, é considerada irreversível devido à plasticidade metabólica limitada desses corpos celulares. Porém, um estudo publicado na Science Advances mostra que os neurônios podem neutralizar a degeneração e promover a sua sobrevivência, adaptando seu metabolismo.

Pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia, e do Max Planck Institute, na Alemanha, observaram que a neurodegeneração pode ser revertida mesmo em estágios avançados em doenças mitocondriais e outros tipos, como a doença de Parkinson.

As mitocôndrias são como fábricas de energia. Células nervosas são particularmente dependentes delas para sua atividade e um crescente número de evidências tem ligado a disfunção mitocondrial a algumas das formas mais devastadoras de degeneração celular. No entanto, poucos estudos foram feitos sobre a morte neuronal causada pela disfunção mitocondrial.

Além disso, neurônios são geralmente considerados células com capacidade muito limitada de adaptar seu metabolismo energético. Por outro lado, para algumas doenças neurológicas, há ampla evidência de que a disfunção mitocondrial pode ser tolerada por longos períodos. Os pesquisadores, portanto, questionaram se os neurônios em degeneração podem ativar um programa de “resiliência metabólica”.

“Criamos uma abordagem inovadora para purificar neurônios em degeneração do cérebro de camundongos e para analisar o seu conteúdo protéico global, o proteoma. Inesperadamente, os dados proteômicos mostraram a existência de um programa metabólico específico de neurônios precisamente coordenado que se torna ativado em resposta à disfunção mitocondrial”, explica o professor do Departamento de Bioquímica Médica e Biofísica em Karolinska Institutet, Nils-Göran Larsson.

Em particular, os autores identificaram uma forma de religação metabólica (a reação anaplerótica do ciclo de Krebs) que torna os neurônios resistentes a uma degeneração que de outra forma progride muito rapidamente. Quando a reação foi bloqueada, os neurônios morreram em um ritmo muito mais rápido e a doença se tornou mais grave.

A identificação de certas formas de religação metabólica em neurônios disfuncionais pode ajudar no desenvolvimento de terapias para prolongar a sobrevida neuronal e melhorar a função em pacientes com doenças mitocondriais e outros tipos de neurodegeneração.

“Nossa pesquisa identifica uma via que confere resiliência à disfunção mitocondrial e mostra que a neurodegeneração pode ser revertida mesmo em estágios avançados”, afirmam os pesquisadores.

Via: Karolinska Institutet

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital