Uma motorista reserva (backup driver) a serviço da Uber foi indiciada por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, após envolver-se em um acidente seguido de morte em 2018, em Phoenix, no estado norte-americano do Arizona. O veículo autônomo seguia seu curso, mas acabou por atropelar Elaine Herzberg, de 49 anos.
Segundo a equipe jurídica do Condado de Maricopa, Vasquez estava distraída com o seu smartphone no momento do acidente, argumentando que, estivesse ela com a devida atenção na via, poderia ter assumido o controle da direção e evitado o atropelamento. A ré, por sua vez, declarou-se inocente durante uma audiência preliminar realizada na terça-feira (15), afirmando que não usou nenhum de seus aparelhos telefônicos antes ou durante o ocorrido.
O Comitê Nacional de Segurança do Transporte (National Transportation Safety Board) concluiu, porém, que a motorista estava assistindo ao programa The Voice pela tela do celular, efetivamente impedindo a sua atenção à pista. O comitê ainda citou outros fatores de risco em sua avaliação, como a decisão da vítima de atravessar a rua fora da faixa, a falta de supervisão da Uber em relação aos seus motoristas e a falta de supervisão do Departamento de Trânsito do Arizona em relação a veículos autônomos.
Acionamento de emergência desativado
Uma perícia independente encomendada pelo comitê ainda concluiu que a Uber desativou o acionamento automático de emergência dos freios do veículo, preferindo depender da atenção da motorista reserva – Vasquez – para prover a segurança da via. Segundo a perícia, o sistema autônomo do veículo da Uber detectou a vítima 5,6 segundos antes do atropelamento, mas não foi capaz de determinar se tratava-se de uma ciclista, pedestre ou um objeto desconhecido, além de não conseguir aferir se ela atravessava o caminho a ser percorrido pelo carro.
Na ocasião da ocorrência, a Uber retirou das ruas do Arizona todos os seus veículos autônomos, demitindo cerca de 300 motoristas reservas, um dia antes do comitê lançar seu primeiro relatório preliminar pericial. O governador do estado, Doug Ducey, proibiu a empresa de operar veículos autônomos após o acidente, e o caso repercutiu por todo o país, desacelerando o trabalho de outras empresas do setor, que visavam inserir seus automóveis de direção automatizada no mercado.
Algumas cidades dos EUA contam com serviços de carros autônomos da Uber. Imagem: Divulgação/Uber
Vale citar também que a vítima, segundo um exame toxicológico, testou positivo para metanfetamina. Vasquez, a motorista indiciada, por sua vez, tem duas condenações prévias – falsas declarações no intuito de obter benefícios municipais para desemprego e tentativa de assalto à mão armada -, tendo passado quatro anos na prisão.
A Uber, por si, não foi indiciada no processo, pois um promotor que atuava anteriormente no caso retirou-se após citar um conflito de interesse: no passado, ele havia participado de uma campanha sobre direção segura veiculada pela empresa.
O julgamento de Rafaela Vasquez está marcado para 11 de fevereiro de 2021.
Fonte: Associated Press