Microsoft admite que estava errada quanto ao Software Livre

Empresa já foi uma das mais ferozes críticas desta filosofia de desenvolvimento de software, mas hoje é a que mais colabora com projetos deste tipo
Rafael Rigues18/05/2020 18h26

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Na última quinta-feira (14) aconteceu algo que quem acompanha o mercado de tecnologia há mais tempo certamente acreditava que nunca iria acontecer: a Microsoft admitiu que “estava errada” sobre o Software Livre e Open Source.

A declaração foi feita por Brad Smith, Presidente e Diretor Jurídico da empresa, em um evento privado (via Zoom) para membros do Laboratório de Ciência da Computação e Inteligência Artificial (CSAIL) do MIT.

“A Microsoft estava no lado errado da história quando o Software Livre explodiu no início do século, e posso dizer que eu também, pessoalmente”, disse o executivo, que está na empresa há mais de 25 anos. Ironicamente ele era um dos advogados-sênior da empresa na época em que ela usava todos os seus recursos, inclusive jurídicos, para lidar com competidores.

Em 2001 Steve Ballmer, então CEO da Microsoft, declarou que o Software Livre e Open Source “é um câncer, no sentido de propriedade intelectual, que se agarra a tudo o que toca”. Na época o Software Livre, e especialmente o Linux, era visto como a principal ameaça à empresa, que elaborou documentos conhecidos como os “Documentos de Halloween”, destacando os pontos fortes e fracos do concorrente e táticas para combatê-lo.

ReproduçãoSteve Ballmer: Crítico ferrenho do Linux e do movimento Open Source. Imagem: Reprodução

Entre elas o “FUD” (“Fear, Uncertainity and Doubt”, ou “Medo, incerteza e dúvida”), referência à tática de semear dúvida sobre a qualidade ou viabilidade de um concorrente para convencer os clientes a fazer a “escolha segura” e ficar com a Microsoft.

Outra tática ficou conhecida como “abraçar, estender e extinguir”, que consistia em adotar um padrão da indústria e adicionar extensões proprietárias a ele, tornando seus usuários “reféns” da versão Microsoft e incapazes de retornar ao padrão original. Tática que foi usada com sucesso no combate à popularidade da linguagem de programação Java e na guerra entre o Internet Explorer e concorrentes como o Netscape Navigator.

Mas segundo Smith, “a boa notícia é que, se a vida for longa o bastante, você pode aprender que precisa mudar”. E a Microsoft de hoje certamente parece bem diferente da empresa de 20 anos atrás. Atualmente ela é a maior colaboradora de projetos Open Source, à frente de concorrentes que há tempo abraçam esta metodologia de desenvolvimento, como o Facebook e Google.

Softwares como o PowerShell (um interpretador de comandos integrado a todas as versões do Windows desde o Windows 7) e Visual Studio Code (um editor de código-fonte) são Open Source e tem versões para Linux. O navegador Edge foi completamente reformulado ao redor do Chromium, versão Open Source do Google Chrome, e em breve o Windows 10 incluirá uma versão completa do Kernel Linux. Isto irá facilitar o desenvolvimento e testes de aplicações e serviços para a Web, que em sua maioria rodam em servidores Linux.

Parece que a frase dita em 1914 por Nicholas Klein, advogado e sindicalista norte-americano, é verdadeira: “Primeiro eles te ignoram. Depois te ridicularizam. Então te atacam e querem te queimar. E então construirão monumentos em tua homenagem”.

Fonte: The Verge

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital