Review do novo Microsoft Edge: finalmente à altura do Chrome

A Microsoft foi piada no mercado de navegadores por muitos anos, mas conseguiu revidar
Renato Santino21/01/2020 01h12, atualizada em 21/01/2020 11h00

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Quem usa a internet há mais de uma década deve se lembrar de todas as piadinhas que a Microsoft precisou aguentar pela incapacidade do Internet Explorer, especialmente diante do crescimento de rivais de peso como o Firefox e, principalmente, o Google Chrome. Após tantos anos de chacota, a companhia lançou o Edge junto do Windows 10 totalmente repensado para tentar desfazer o atraso em relação à concorrência.

Não deu certo.

Mesmo pré-instalado no sistema, o Edge continuou ignorado pelo público por muitos anos, com bons motivos. Se o desempenho não era mais tão defasado em relação aos concorrentes quanto era na época do IE, ainda havia outros problemas graves. Talvez o pior deles fosse o fato de que suas atualizações estavam diretamente ligadas ao Windows Update, o que atrasava a liberação de novos recursos aos usuários.

Da mesma forma, a Microsoft nunca conseguiu criar um ecossistema saudável de extensões para o Edge, resultado de um baixo número de usuários, que não incentivava desenvolvedores a criarem nada para a plataforma. Em um mundo em que os navegadores fazem cada vez mais coisas, essa limitação significava mais um ponto fraco diante dos rivais.

Foi então que a Microsoft decidiu lançar o Edge versão Chromium, que visa atacar os principais pontos fracos do seu navegador. Após meses em teste, a versão estável do navegador está disponível para download, mas será que ela está pronta para retomar os anos anteriores ao declínio do Internet Explorer?

Um clone do Chrome?

Ao abrir o novo Edge, é impossível não notar a similaridade com o Chrome, do Google. E isso não é um acaso. Por baixo do novo Edge está o Chromium, um projeto de navegador de código aberto mantido pelo Google que também serve de base do Chrome, do Opera e vários outros browsers menos conhecidos, como Brave e Vivaldi.

A decisão por seguir o caminho do Chromium traz vantagens evidentes. A mais clara é a familiaridade, um fator que nunca pode ser subestimado. Pessoas tendem a se frustrar com softwares muito diferentes do que estão acostumadas, e o fato de o novo Edge ser basicamente igual ao Chrome faz com que seja muito simples testar e usar o novo navegador sem precisar de muito aprendizado.

Curiosidade: enquanto eu testava o novo Edge, é curioso notar que eu precisava a todo momento me certificar de que estava rodando o browser certo, justamente pelo fato de que ele é muito parecido com o Chrome em termos de interface. As duas imagens abaixo mostram com clareza como os navegadores são parecidos até no esquema de cores na janela de navegação anônima.

Reprodução

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Além da questão estética, porém, a transição para o Chromium traz alguns pontos fortíssimos que não são tão visíveis a uma primeira olhada. Primeiro: sendo o Chrome o navegador mais usado do mundo, a maioria dos sites e aplicativos web são feitos pensando no navegador do Google em primeiro lugar, que utiliza o motor de renderização Blink, nascido do WebKit. Quando a Microsoft decide abraçar o Chromium e o Blink, a empresa também faz com que o Edge ganhe muito em compatibilidade.

Isso também se estende para a questão das extensões. O novo Edge conta com sua própria loja de complementos para o navegador, que conta com extensões importantes como bloqueadores de anúncios, gerenciadores de senhas e vários outros, mas a grande sacada do navegador é que ele também é compatível com o imenso ecossistema do Chrome. Basta habilitar o suporte a extensões de “outras lojas” e acessar a Chrome Web Store para realizar a instalação. Tirando alguns apps muito específico, tudo funciona normalmente.

Tudo isso me passa uma mensagem clara: a Microsoft quer dar ao usuário que pensa em deixar o Chrome o caminho com o mínimo de atrito possível. Tudo funciona praticamente igual nos dois navegadores.

A diferença é a Microsoft

Já dissemos previamente como os navegadores são similares; agora vamos às diferenças. O grande diferencial do Edge é o fato de ele empurrar o usuário para os serviços da Microsoft, enquanto o Chrome faz isso com as ferramentas do próprio Google.

Isso tem um ponto bem negativo. Quando você resolver abrir o Edge pela primeira vez, vai se deparar com o Bing como buscador principal. A ferramenta pode até não ser ruim, mas não tem comparação com o Google como plataforma de pesquisas, e a discrepância de desempenho se reflete na diferença na quantidade de usuários. Para quem está acostumado com o Google como buscador (a maioria absoluta dos usuários de internet), o choque é imediato.

Felizmente, é possível mudar o comportamento da barra de endereços do Edge para que as buscas sejam feitas com o buscador do Google. Esse passo extra de acessar a página de Configurações, no entanto, pode ser o suficiente para assustar uma parte do público. Até o momento não há uma forma de trocar o buscador padrão da página exibida quando você abre uma nova aba.

Falando na página de nova aba, ela possui alguns modos diferentes. Ela pode exibir uma imagem de fundo que pode se alterar diariamente ou ser totalmente branca. O usuário pode escolher entre alguns modos de exibição: o mais simples só tem a barra de pesquisas do Bing, mas também é possível destacar os sites que você mais acessa com blocos na interface e notícias. Existem alguns visuais prontos: o modo “Em foco” é uma página branca que destaca só a barra de buscas e os sites mais acessados; o modo “Inspirador” coloca uma imagem de plano de fundo, enquanto o modo “Informativo” destaca notícias. Também é possível personalizar e remover um elemento e manter outros entre os diversos modos. Pessoalmente, eu preferi desabilitar as notícias, remover os sites sugeridos e deixar apenas a tela branca com a barra de pesquisa.

Uma questão que pode ser um ponto a favor do Edge sobre o Chrome é a da privacidade, que é um tema em alta. O Edge tem uma função nativa que visa limitar o rastreamento ao qual um usuário de internet é sujeito ao navegar por sites, e apresenta essa ferramenta de forma simples: “Básico”, “Equilibrado” ou “Estrito”; por padrão, o navegador está configurado no modo “Equilibrado”. Seus pontos fortes e fracos são apresentados com clareza: o modo traz máxima compatibilidade com a web, mas também facilita a coleta de informações e rastreamento; no polo oposto, o “Estrito” pode fazer alguns sites funcionarem de forma inadequada, mas traz maior privacidade. Não contar com bloqueio nativo de anúncios, no entanto, é um ponto fraco no assunto neste quesito, mas não o suficiente para ficar atrás do Google dentro do aspecto privacidade, já que o Chrome também não conta com o recurso.

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O Edge conta com alguns recursos interessantes que não existem no Chrome. O navegador conta com um modo de leitura avançado, que elimina distrações da página, facilitando a visualização de artigos na internet, o que não chega a ser um recurso novo (o Firefox tem há muito tempo), mas ainda não existe oficialmente no browser do Google. No entanto, o novo Edge perdeu alguns recursos importantes do velho Edge, como as Coleções e o suporte as anotações em telas de toque, que podem chegar no futuro, mas infelizmente ainda não existem.

Desempenho

Tudo o que falamos até agora seria irrelevante se o Edge fosse incapaz de competir com seus adversários em termos de velocidade. Felizmente, não foi o que constatamos durante nossos testes de uso e nos benchmarks que rodamos.

Na prática, o Edge teve um resultado muito próximo do Chrome na maioria dos testes, chegando a superar o adversário em alguns momentos. Também rodamos benchmarks com outros concorrentes, o Firefox e o Opera, para ver quem se sai melhor nos testes.

Para os testes, utilizamos seis benchmarks: Jetstream 2, Kraken 1.1, Speedometer 2.0, Motion Mark 1.0, WebXPRT 3 e Basemark 3.0. Todos eles foram rodados nas versões mais recentes dos navegadores sem extensões ativas e com o benchmark ocupando a única aba aberta do browser. Os experimentos foram realizados em um PC Windows 10 rodando a partir de um SSD, com processador Intel Xeon E5-1620 de 3,7 GHz e 32 GB de memória RAM.

Confira a seguir como cada navegador se saiu em cada teste:

Jetstream

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Kraken

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Speedometer

Reprodução

Motion Mark

Reprodução

WebXPRT

Reprodução

Basemark

 Reprodução

Como é possível ver, o Edge desempenhou bem na maioria dos testes, tendo resultados muito próximos do Chrome e o Opera em quase todos, superando por pouco em alguns casos, sendo superado por pouco em outros. Não chega a ser surpresa: os três navegadores usam a mesma base, e ter um desempenho similar é o que se espera de browsers com tanto em comum. O resultado próximo dos concorrentes é um ganho para a Microsoft.

Em termos de gestão de memória, que é um ponto amplamente criticado do Chrome, não percebemos uma diferença significativa. Ao abrirmos cinco abas com sites populares tanto no Edge quanto no Chrome, notamos que o consumo de memória RAM no PC se manteve estável em 5,4 GB.

Conclusão

Como disse previamente, enquanto testava o Edge precisei repetidas vezes me certificar de que estava rodando o navegador da Microsoft, e não o Chrome. Esse certamente foi o plano da companhia na hora de planejar o browser, e o objetivo foi alcançado com sucesso. Tudo no Edge é familiar e amigável para quem está acostumado com o Chrome, que é a maioria dos usuários da web.

Ele não faz feio em termos de desempenho, privacidade e recursos em relação ao seu principal concorrente, o que nos faz entender um pouco melhor a estratégia da Microsoft. Se, por muitos anos, os navegadores da empresa foram conhecidos por serem “ideais para baixar o Chrome e nunca mais usar” assim que a instalação do Windows é concluída, agora os dois navegadores são idênticos. A similaridade pode fazer com que seja dispensável instalar o Chrome no PC.

Pelo que o Edge apresenta neste momento, ele pode, sim, em algum momento futuro, ser uma ameaça ao reinado do Chrome. Para isso, no entanto, a Microsoft precisa provar que é capaz de manter um bom ritmo de atualizações para continuar renovando seu browser com novos recursos, o que é seu ponto fraco desde a época do IE. Se a companhia continuar lançando updates a cada seis meses, esse objetivo não vai se concretizar.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital