Embora fosse esperado que a transição para lâmpadas de LED gerasse uma queda no consumo de energia, o que está acontecendo em escala global é justamente o contrário. Foi isso que concluiu um estudo publicado ontem no periódico “Science Advances” por pesquisadores europeus.

Os pesquisadores usaram o primeiro radiômetro calibrado equipado em um satélite para avaliar imagens da superfície da Terra durante o período noturno entre 2012 e 2016. As imagens mostram a Terra durante a noite, e deixam claro as áreas que são mais iluminadas por luz artificial. Com o avanço das lâmpadas de LED, os cientistas esperavam observar uma queda nas áreas iluminadas captadas pelo satélite.

No entanto, observou-se justamente o oposto. Durante o período, a área da Terra iluminada artificialmente durante a noite cresceu 2,2% ao ano em média, e a intensidade dessa iluminação aumentou em média 1,8% ao ano. Dentre os países observados, 20 deles tiveram um aumento de 150% ou mais em sua iluminação noturna. Outros 60 países tiveram aumento entre 110% e 150%, cerca de 40 países se mantiveram em nível estável de iluminação, e apenas 16 apresentaram queda.

Motivos

De acordo com o Gizmodo, a taxa de iluminação noturna se manteve estável em países desenvolvidos, como Estados Unidos e Espanha, mas aumentou na maioria dos países da Ásia, América do Sul e África. As quedas aconteceram em países agravados por crises ou guerras como Síria e Iêmen. Portanto, é possível concluir que, de certa forma, o mundo todo ainda está chegando aos padrões do mundo desenvolvido de emissão de luz à noite.

Isso, segundo o físico John Barentine, ouvido pelo site, é importante porque prova que a “poluição de luz” continua a crescer apesar da transição para iluminação com LED. Além disso, mostra que as luzes de LED não têm o benefício esperado de reduzir o uso de energia com luz. “Esse último ponto é especialmente importante porque uma série de governos foram convencidos a converter suas matrizes de luzes externas para LED com a promessa de uma redução no consumo”, disse Barentine.

Segundo o físico, esses dados sugerem que embora as lâmpadas de LED realmente sejam mais econômicas, a economia que elas geram acaba fazendo com que as pessoas e governos instalem mais luzes. Com isso, mesmo que o consumo de energia se mantenha constante ou caia um pouco, o nível de iluminação continua a aumentar

Problemas

Barentine, no entanto, chamou a atenção para os riscos que essa situação apresenta. “Não é exagero descrever o problema global de poluição de luz como algo estarrecedor e sem precedentes”, considerou. “Além da questão energética, o principal impacto ambiental do aumento da luz noturna é na saúde e no bem-estar de praticamente todos os organismos da Terra”, argumentou.

Realmente, a quantidade e a qualidade da luz podem ter impactos profundos no bem estar das pessoas. Excesso de luz azul durante a noite pode atrapalhar o ritmo circadiano das pessoas, o que pode levar a problemas de metabolismo como insônia. Esse problema também afeta a saúde e o comportamento de animais, plantas e até microorganismos.

Para resolver o problema, de acordo com o físico, seriam necessárias políticas públicas voltadas para “garantir que as fontes de luz noturna externa fossem totalmente resguardadas, o que significa que elas não emitem luz acima do horizonte”. Além disso, o problema ainda poderia ser amenizado garantindo que as luzes fossem instaladas de forma a iluminar apenas a sua área designada, e fossem escolhidas de forma a emitir o mínimo possível de luz azul (que é a mais poluente nesse caso).

Luz azul, aliás, pode ser um problema ainda maior do que revelado pelo estudo. Isso porque o sensor usado pelo satélite do estudo era sensível a luzes com comprimento de onda entre 500 e 900 nanômetros, e os humanos enxergam luz a partir dos 400 nanômetros. O espectro de menor comprimento de ondas é justamente o de luzes azuis ou azuladas, e por isso há ainda mais luz azul no mundo do que o satélite foi capaz de detectar.