Em mobilização contra uma abordagem adotada pelo Facebook, centenas de funcionários da empresa fizeram um “protesto virtual” nesta segunda-feira (1º). Eles criticam a decisão de não colocar nenhum alerta nas mensagens postadas pelo presidente norte-americano Donald Trump relacionadas aos os protestos que se seguem nos Estados Unidos após o assassinato de George Floyd.

Como a maior parte dos empregados do Facebook está trabalhando de casa, o movimento ocorre de uma forma diferente. Os funcionários tiraram o dia de folga e adicionaram uma mensagem automática aos seus e-mails dizendo que estavam fora do escritório em uma demonstração de protesto.

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A ação visa pressionar os executivos da rede social a tomarem medidas como as do Twitter, que colocou um alerta em uma postagem de Trump justificando que a mensagem viola suas regras, pois “incita a violência”. O CEO e fundador da empresa, Mark Zuckerberg, argumentou que as declarações de Trump na plataforma não violam as regras da rede social, apesar de dizer que, pessoalmente, tem “uma reação visceral negativa a esse tipo de retórica divisória e inflamatória”.

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No domingo, Zuckerberg postou uma mensagem afirmando que doaria US $ 10 milhões para grupos que trabalham com justiça racial nos EUA. Em resposta à paralisação, o CEO ainda mudou sua reunião semanal com os funcionários da terça-feira (2) para a quinta-feira (4) – é uma chance para eles questionarem o chefe diretamente sobre sua decisão.

Uma porta-voz do Facebook disse ao New York Times os executivos receberam bem o feedback dos funcionários. “Reconhecemos a dor que muitos de nossos funcionários estão sentindo no momento, especialmente nossa comunidade negra”, disse a diretora de comunicação da empesa, Liz Bourgeois. “Incentivamos os funcionários a falar abertamente quando discordam da liderança.”

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“A inação do Facebook em derrubar a publicação de Trump incitando a violência me deixa com vergonha de trabalhar aqui”, postou no Twitter a engenheira do Facebook, Lauren Tan. “Silêncio é cumplicidade”, completou. Alguns funcionários também pediram a demissão de Joel Kaplan, vice-presidente de política global do Facebook, visto como uma forte influência conservadora dentro da empresa.

Vista grossa

Após adicionar o alerta ao polêmico tuíte do presidente, Jack Dorsey, executivo-chefe do Twitter, afirmou que a empresa não iria recuar em sua posição. Por outro lado, na véspera, em uma entrevista na Fox News, Zuckerberg disse que o Facebook não iria julgar as postagens de Trump.

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“Temos sido bastante claros em nossa política de que achamos que não seria correto fazer verificações em postagens de políticos”, disse Zuckerberg. “Acho que, em geral, as empresas privadas – especialmente empresas de redes sociais – não deveriam estar em posição de fazer isso”, afirmou o executivo

A garantia de Zuckerberg de que sua empresa não seria um “juiz da verdade” nas discussões políticas também indica um esforço para agradar republicanos em Washington e vozes conservadoras na mídia, com o objetivo de evitar uma regulamentação forçada na sua plataforma.

“Os instintos de Zuckerberg estão certos”, acredita o comissário republicano da Comissão Federal de Comunicações, Brendan Carr. “Ele confia nas pessoas para decidirem”, completa. Mas a abordagem pode acabar alienando alguns usuários (e funcionários) que acreditam que as regras sobre o que pode ser postado no Facebook devem ser aplicadas igualmente a todos, incluindo líderes mundiais.

“O Twitter e o Facebook têm padrões e políticas da comunidade para combater o discurso de ódio e o incitamento à violência. No entanto, o Twitter está realmente impondo esses padrões contra o presidente dos Estados Unidos e o Facebook não está fazendo nada”, afirma Vanita Gupta, presidente da Conferência de Liderança de Direitos Civis. “O dano dessa abordagem do Facebook é confusão em massa, supressão de eleitores e possível incitação à violência”.

Via: The New York Times (2)