Essa questão não é nova. Já foi abordada no livro “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais”, do Jaron Lanier e no documentário “O Dilema das Redes“, lançado este ano pela Netflix, entre outros lugares. Mas agora, temos o testemunho oficial de um alto executivo interno.

Um ex-diretor do Facebook, em depoimento no Congresso dos Estados Unidos, afirmou que a rede social promove o engajamento dos seus usuários sem levar em conta potenciais danos. Tim Kendall – que ocupou o cargo de diretor de Monetização na empresa entre 2006 e 2010 – afirma que o algoritmo foi projetado para ser tão viciante quando o cigarro.

Agora, Kendall se diz preocupado que o Facebook esteja contribuindo para um cenário de extremismo nos EUA que está “nos levando à beira de uma guerra civil”. O relato foi feito perante o Subcomitê de Comércio e Proteção ao Consumidor da Câmara dos Deputados norte-americana. O executivo acusou a rede social de construir algoritmos que facilitaram a disseminação de informações incorretas, encorajaram retórica divisiva e lançaram as bases para uma “crise de saúde mental”.

“Pegamos uma página do manual da Big Tobacco [nome usado para se referir às maiores empresas globais da indústria do tabaco], trabalhando para tornar nossa oferta viciante desde o início”, afirmou Kendall, que hoje é CEO do app de gerenciamento de tempo Moment.

“Os serviços de mídia social que eu e outros construímos nos últimos quinze anos serviram para separar as pessoas com uma velocidade e intensidade alarmantes. No mínimo, corroemos nosso entendimento coletivo – na pior das hipóteses, temo que estejamos nos forçando a à beira de uma guerra civil”, completou o empresário.

Facebook/Divulgação

Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, durante a F8 2019. Imagem: Facebook/Divulgação

Como diretor de Monetização, Kendall conta que inicialmente pensava que sua função seria de equilibrar o interesse financeiro do Facebook com o bem-estar de seus usuários. Porém, o executivo afirma que a rede social estava interessada em obter lucros acima de qualquer coisa. “Procuramos obter o máximo da atenção humanamente possível e transformar isso em lucros sem precedentes históricos”, afirmou o ex-diretor no Congresso.

Assim como diversos especialistas relatam no filme “O Dilema das Redes”, Kendall explicou como o algoritmo do Facebook recompensa conteúdo chocante e retórica divisiva para provocar respostas emocionais extremas nos usuários – e assim prender sua atenção. “Esses algoritmos trouxeram à tona o que há de pior em nós. Eles literalmente reconfiguraram nossos cérebros para que fiquemos separados da realidade e imersos no tribalismo”, disse.

Na audiência do subcomitê que Kendall testemunhou na quinta-feira, os legisladores disseram que a disseminação de desinformação no Facebook pode ser a causa para uma futura regulamentação governamental de plataformas de mídia social.

Via: Business Insider