Estudo publicado mostra que remdesivir reduz tempo de internação por Covid-19

Antiviral desenvolvido pela farmacêutica Gilead não afetou significativamente a letalidade, mas a liberação precoce de leitos já é considerada vitória
Renato Santino26/05/2020 21h08, atualizada em 26/05/2020 21h20

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Pesquisadores nos Estados Unidos enfim publicaram o aguardado estudo sobre a eficácia do remdesivir no tratamento de Covid-19. O estudo, divulgado na revista científica The New England Journal of Medicine, mostra o que Anthony Fauci, imunologista que tem sido o principal conselheiro de Donald Trump durante a pandemia, havia revelado: o medicamento encurta o tempo de internação de pacientes.

Fauci havia adiantado as informações do estudo, o que levou o governo dos EUA a aprovar o uso do medicamento de forma emergencial, mas agora ele está publicado e revisado por pares, dando maior respeitabilidade para a pesquisa, que levou em conta uma série de critérios rígidos de teste. Isso incluiu, por exemplo, da randomização de pacientes entre grupos, com cerca de metade dos pacientes recebendo o princípio ativo, e a outra metade apenas um placebo. Também foi adotado o duplo-cego, em que pacientes e pesquisadores não sabem qual dos dois tratamentos estão em andamento até o fim do experimento.

Com mais de 1.063 pacientes, os pesquisadores tiveram uma base sólida para perceber que o tempo médio de internação dos pacientes foi diminuído de 15 dias no grupo placebo para 11 dias entre os que receberam o medicamento.

Os pesquisadores, no entanto, não perceberam grande avanço em termos de mortalidade dos pacientes. O grupo que recebeu o remdesivir teve 21 mortes contra 28 no grupo de controle, mas o resultado não foi considerado estatisticamente significativo. Mesmo assim, o fato de desocupar leitos de UTI mais rapidamente foi considerado um sucesso.

O remdesivir foi desenvolvido pela farmacêutica Gilead originalmente para combater o vírus do Ebola, mas não foi adiante. Com a pandemia de Covid-19, o medicamento passou a ser experimentado contra o vírus, e faz inclusive parte do experimento Solidarity, conduzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 10 países, para tentar encontrar medicamentos já existentes que possam ser úteis no tratamento da doença. A cloroquina era outro remédio a fazer parte dos testes, mas os estudos foram suspensos devido à pesquisa divulgada na semana passada reportando aumento no risco de morte em decorrência de efeitos colaterais.

A Gilead já anunciou que, diante dessa situação, deverá abrir mão temporariamente da patente do remdesivir em alguns países, o que deve baratear sua produção e distribuição. O Brasil, no entanto, não está na lista de nações onde essa suspensão valerá.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital