Em entrevista coletiva concedida recentemente, João Rezende, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel, colocou a culpa do fim da internet ilimitada no Brasil nos usuários que jogam online. No entanto, a história não é bem assim.

De acordo com Sérgio Ricardo Master Penedo, especialista em TI do Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada, o argumento não faz sentido do ponto de vista técnico. “O ato de jogar online consome uma parcela muito pequena de dados e os gamers não podem ser responsabilizados pelo fim da internet ilimitada”, afirma.

O especialista também diz que o argumento de Rezende só é coerente sob um ponto de vista econômico e benéfico para as operadoras. 

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Vale lembrar também que um estudo reproduzido pelo Olhar Digital mostrou que os verdadeiros “gastões” de dados são os serviços de streaming, como Netflix e YouTube. Coincidência ou não, a relação entre essas empresas e as operadoras de banda larga e televisão por assinatura não é das melhores.

Segundo Penedo, a medida favorece que companhias desse ramo possam obter alguma receita com o streaming, uma vez que o usuário seria forçado a comprar pacotes adicionais de dados para continuar conectado, como já é feito com a internet móvel.

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Em uma página especial criada para tirar dúvidas sobre o assunto, a Vivo afirmou que a medida de limitar a internet nada tem a ver com o uso dos serviços de streaming. No entanto, a empresa também já disse que quem usa YouTube e Netflix terá que pagar mais pela internet.

Já o consumo de dados da jogatina conectada à internet é quase insignificante, conforme mostra o experimento. Em uma partida do jogo “Dota 2”, o consumo foi de menos de 30 MB em uma sessão online com duração de cerca de 28 minutos. Para efeito de comparação, um vídeo de 20 minutos do YouTube em qualidade Full HD consome mais de 450 MB da franquia.

Dessa forma, a única explicação plausível para relacionar os jogos com o fim da internet ilimitada é o tamanho dos títulos que podem pesar mais de 60 GB, como no caso de Grand Theft Auto V, por exemplo, e comprometer grande parte da franquia com apenas um download. No entanto, isso ainda não explica o fato de Rezende ter se referido ao ato de jogar online, e não a ação de realizar o download de um jogo ou de qualquer outro arquivo.