Na sexta-feira passada, 12, o mundo inteiro foi atingido pelo ataque WannaCry, que criptografava os dados de computadores e só os liberava mediante pagamento. Ao todo, mais de 200 mil máquinas em mais de 150 países foram afetadas – e um dos motivos para essa propagação massiva foi a pirataria.
Isso é o que sugere a empresa de segurança digital F-Secure, que divulgou no fim de semana uma série de dados sobre o ciberataque. De acordo com a empresa, os dois países mais afetados pelo WannaCry – China e Rússia – também são dois dos países que mais utilizam versões piratas do Windows. Segundo o New York Times, estudos realizados pela Software Alliance em 2016 apontaram que 70% dos computadores chineses usam software não-licenciado; na Rússia, esse número é de 64%.
O que isso tem a ver?
A grande questão é que as versões piratas do Windows não podem instalar as atualizações de segurança que a Microsoft disponibiliza – ou pelo menos não com a mesma agilidade. E o caso do WannaCry mostrou a diferença que isso pode fazer.
O WannaCry explorava uma falha de segurança descoberta (mas não revelada) pela NSA, agência de segurança dos EUA. Quando a NSA foi hackeada pelos Shadow Brokers, em abril, a informação sobre essa falha se espalhou, o que possibilitou o ataque. A Microsoft, sabendo da situação, lançou uma atualização de segurança para todas as versões do Windows que tinham a falha.
Mas os PCs com versões piratas do Windows não receberam a atualização. Seus usuários até poderiam tê-la instalado manualmente, mas naturalmente a chance de alguém fazer isso é muito menor. Por isso, quando o ataque se disseminou, muitos computadores ainda não tinham instalado a atualização que lhes daria proteção contra ele. O resultado foi o imenso estrago causado pelo WannaCry.
E no Brasil?
Uma lista preliminar de países afetados pelo WannaCry publicada na sexta-feira mostrava o Brasil em 13º lugar dentre os países mais atingidos. A empresa espanhola Telefônica, que opera no Brasil como Vivo, também foi afetada por aqui, e leitores do Olhar Digital relataram que não conseguiram trabalhar por causa da falha de segurança.
Também faz sentido, aqui, a correlação com a pirataria. Segundo um estudo do ano passado da Software Alliance, 47% das máquinas daqui usam software não-licenciado. Embora a porcentagem seja alta, a organização considerou, no estudo, que o resultado foi positivo, já que mostrou uma redução de 3% com relação aos anos anteriores.
Esse caso serve, portanto, como um aviso às instituições e empresas que ainda usam versões não-licenciadas do Windows: adotar a versão oficial do sistema tem vantagens importantíssimas. Por outro lado, também mostra um aspecto bem cruel do ataque: ele afeta de maneira desproporcional pessoas que não têm condição de pagar por uma licença do sistema operacional.
Como já mencionamos, a própria Microsoft tem uma boa dose de responsabilidade pelo ataque ter assumido a proporção que assumiu. Diante disso, seria interessante ver a Microsoft se posicionar com relação a essa situação oferecendo o Windows a preços mais acessíveis para essas pessoas.