Empresa comercializa banco de dados de DNA usado para resolver crimes

Prática pode ser considerada invasão de privacidade
Vinicius Szafran12/12/2019 18h55, atualizada em 12/12/2019 20h00

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Um banco de dados de DNA, que começou como um projeto passional e depois se envolveu em um debate em andamento sobre privacidade genética, agora se tornou comercial. Nesta semana, a empresa forense Verogen, de San Diego, anunciou a aquisição do site de genealogia GEDmatch.

Fundada em 2017, a Verogen é uma divisão da companhia de sequenciamento de genomas Illumina. Embora seus produtos tenham sido amplamente usados no mundo da pesquisa e biotecnologia, a Verogen anunciou as próprias combinações de DNA para agências policiais.

Em contrapartida, o GEDmatch foi iniciado por um par de genealogistas amadores, Curtis Roger e John Olson, em 2010. O site foi planejado para fornecer informações genealógicas para indivíduos físicos interessados.

Reprodução

A base de usuários do site cresceu de forma constante ao passar dos anos, em relativa obscuridade. Mas isso mudou em 2018, quando a polícia de Sacramento usou o GEDmatch para identificar um  suspeito assassino do Golden State, Joseph James DeAngelo. Eles enviaram o DNA da cena do crime ao site, o que lhes permitiu encontrar possíveis parentes distantes do suspeito, depois trabalharam os antepassados construindo a árvore genealógica que levou a DeAngelo, que posteriormente acabou preso.

Embora os proprietários da empresa tenham demonstrado consternação com a forma que seus dados foram usados, eles logo mudaram de ideia e incentivaram às agências policiais e outras empresas forenses a fazerem o mesmo. Isso levou a uma enxurrada de investigações semelhantes. No início deste ano, William Earl Talbott II se tornou a primeira pessoa condenada por assassinato com a ajuda da genealogia forense.

Especialistas pediram cautela sobre a tendência e suas consequências não intencionais. Não há diretrizes sobre quando a polícia deve usar bancos de dados genealógicos, embora empresas do ramo tenham prometido não compartilhar seus dados abertamente com a polícia ou qualquer órgão público.

Em dezembro, um estudo descobriu que apenas uma pequena parcela de pessoas da população precisaria enviar seu DNA a um banco de dados como o GEDmatch, antes que fosse possível rastrear a identidade de praticamente qualquer pessoa; outros mostraram como seria fácil para alguém com más intenções invadir e manipular esses bancos de DNA.

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Em meio às críticas, os proprietários da GEDmatch implementaram uma nova política de adesão no mês de maio, permitindo usuários de decidir sobre a possibilidade de pesquisa dos seus dados pela polícia. Independentemente disso, em novembro, a polícia da Flórida obteve um mandado de busca em todo o GEDmatch.

Por um lado, é possível que os maiores recursos da Verogen impeçam futuras tentativas da polícia de burlar a política do GEDmatch. Por outro, a Verogen se concentra há muito tempo em trabalhar com as agências policiais.

“Essa missão agora pode suplantar a genealogia comum como o foco principal do site GEDmatch e levar à expansão da cooperação policial”, disse Natalie Ram, especialista jurídica da Universidade de Maryland. “Além disso, a Verogen é uma empresa com fins lucrativos, enquanto o GEDmatch era anteriormente operado sem um motivo significativo de lucro. Essa mudança na busca de lucro pode tornar os novos proprietários do GEDmatch mais propensos a cooperar ainda mais com a aplicação da lei e outras entidades interessadas que podem pagar.”

A Verogen afirma que os usuários continuarão tendo livre acesso às ferramentas básicas oferecidas pelo GEDmatch, embora “no futuro, aplicativos aprimorados se tornem disponíveis”. Atualmente, acredita-se que cerca de 200 mil usuários permitiram que seu DNA fosse pesquisado pela polícia.

“Não há mudanças planejadas em termos de consumidores acessando o banco de dados GEDmatch”, disse o porta-voz da Verogen, Kim Mohr. “Todos que puderam acessar o GEDmatch no passado ainda poderão acessar o site.”

Dito isso, na segunda-feira (9), os usuários que acessaram o GEDmatch foram notificados sobre uma mudança. Aqueles que desejavam continuar usando o site foram solicitados a assinar novos termos de serviço, enquanto os que recusaram foram informados de que podiam limpar todos os dados dos servidores do site.

“As revisões nos termos de serviço ocasionados por esta aquisição devem lembrar mais uma vez os usuários – de qualquer serviço semelhante – de que sua privacidade e outros direitos podem ser tão fortes quanto à boa vontade e os motivos financeiros do operador do site permitem, e que o site do operador normalmente pode alterar esses termos a qualquer momento”, afirmou Ram.

Via: Gizmodo

Vinicius Szafran
Colaboração para o Olhar Digital

Vinicius Szafran é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital