Cientistas estudam uso de luz UV para ‘matar’ o coronavírus no ar

Lâmpadas ultravioleta instaladas próximas ao teto de salas poderiam ser usadas para matar vírus, bactérias e fungos em suspensão, diminuindo o risco de transmissão de doenças, entre elas a Covid-19
Rafael Rigues08/05/2020 12h24, atualizada em 08/05/2020 12h35

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Uma tecnologia criada há décadas pode desempenhar um papel importante na contenção da pandemia de Covid-19, bem como impedir a disseminação de outras doenças.

Com o nome nada atraente de “irradiação germicida ultravioleta no topo da sala”, ela consiste no uso de lâmpadas ultravioleta instaladas próximas ao teto de uma sala. Ventiladores sugam o ar ambiente, fazendo-o circular em frente à lâmpada, cuja luz mata vírus e bactérias em suspensão.

É a mesma tecnologia que está sendo usada pelo MTA, departamento de transporte público de Nova York, em um teste para desinfecção de ônibus e vagões do metrô.

Efetividade em outras décadas

A ideia não é nova: os primeiros experimentos foram realizados na década de 30 em escolas na Filadélfia, nos EUA. Durante cinco anos, um estudo apontou que alunos em salas equipadas com as lâmpadas tinham menor probabilidade de se infectar com doenças contagiosas, como caxumba e varíola, do que alunos em salas sem os equipamentos.

A maior diferença foi notada em 1941, quando um surto de varíola acometeu as escolas do estado. Nas salas com as lâmpadas, apenas 15% dos estudantes vulneráveis (que não tinham anticorpos contra a doença) foram infectados, contra 50% nas salas desprotegidas.

Reprodução

Robô emite luz ultravioleta para desinfectar um quarto de hospital na China

“Lutamos no passado para ver esta tecnologia altamente eficaz e segura totalmente implementada contra infecções transmitidas pelo ar”, disse o Dr. Edward A. Nardell, professor de saúde global e medicina social na Harvard Medical School. “Já fizemos os estudos. Sabemos que funciona”.

Como funciona?

As lâmpadas emitem uma frequência de luz ultravioleta chamada “Ultravioleta C”, ou UVC, que naturalmente não é encontrada na Terra, já que os raios são bloqueados pela nossa atmosfera. A luz destrói o material genético dos vírus (RNA), fungos e bactérias (DNA), essencialmente matando estes organismos.

A luz UVC tem uma frequência de onda mais curta que a UVA e UVB, conhecidas por causar câncer de pele. Por isso ela é absorvida pelas camadas externas de células mortas em nossa pele antes que possa causar danos ao tecido vivo.

Entretanto, ela pode causar irritações nos olhos e na pele, por isso é geralmente usada em sistemas fechados, como caixas d’água e dutos de ventilação. No sistema proposto pelo Dr. Nardell as lâmpadas são instaladas nas paredes, próximas ao teto e longe do campo de visão dos ocupantes da sala.

Pesquisadores estão estudando o uso de uma frequência de onda ainda menor, chamada “Far UVC” (UVC distante), que é mais segura e cuja luz poderia banhar uma sala continuamente, desinfetando superfícies e objetos além de matar patógenos no ar.

Reprodução

Ilustração do vírus Sars-Cov-2, causador da Covid-19

David Brenner, diretor do Centro de Pesquisa Radiológica no Centro Médico da Universidade de Colúmbia, está conduzindo um experimento de laboratório onde ratos sem pelos estão sendo banhados por luz UVC distante por 8 horas por dia durante 60 dias. Aos 40 dias do experimento, não há sinais de lesões pré-cancerosas ou danos aos olhos, afirma.

Um desafio da tecnologia é comprovar sua eficácia em grandes espaços públicos, como shopping centers, aeroportos ou salões de restaurantes. Estudos feitos no passado se concentraram em pequenos espaços, como enfermarias e salas de aula.

Ainda assim, fabricantes estão começando a ampliar a produção de sistemas UVC. “Não rápido o bastante para nos ajudar com a onda atual da Covid-19”, diz Brenner, “mas talvez rápido o bastante para a ‘segunda onda’ que todos dizem estar a caminho”.

Fonte: The New York Times

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital