Cientistas encontram lugar na Terra onde não há vida

Pesquisa aponta que piscinas salgadas, quentes e hiperácidas do sistema hidrotérmico de Dallol, na Etiópia, são completamente estéreis
Rafael Rigues25/11/2019 15h14, atualizada em 25/11/2019 15h18

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Um argumento a favor da existência de vida extraterrestre é a presença de microorganismos vivendo em ambientes extremos na Terra, chamados “extremófilos”, que conseguem prosperar em condições inóspitas para quaisquer outras formas de vida no planeta. Mas os limites da habiltabilidade podem ter sido redefinidos nesta semana, quando pesquisadores europeus confirmaram a ausência total de vida microbiana nos lagos quentes, salinos e hiperácidos no campo geotérmico de Dallol na Etiópia.

A paisagem infernal de Dallol, localizada na depressão etíope de Danakil, se estende sobre uma cratera vulcânica cheia de sal, onde gases tóxicos emanam e a água ferve em meio a intensa atividade hidrotérmica. É um dos ambientes mais tórridos da Terra. Lá, as temperaturas diárias no inverno podem exceder 45 °C e existem abundantes piscinas hipersalinas e hiperácidas, com valores de pH até negativos.

Um estudo recente, publicado este ano, apontou que certos microrganismos podem se desenvolver nesse ambiente multi-extremo (simultaneamente muito quente, salino e ácido), o que levou seus autores a apresentar este local como um exemplo dos limites que a vida pode suportar , e até propor como um análogo terrestre do início de Marte.

No entanto, agora uma equipe franco-espanhola de cientistas liderada pela bióloga Purificación Lopez Garcia do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica (CNRS) publicou um artigo na Nature Ecology & Evolution que conclui o contrário. Segundo estes pesquisadores, não há vida nas lagoas extremas de Dallol.

“Após analisar muito mais amostras do que em trabalhos anteriores, com controles adequados para não contaminá-las e uma metodologia bem calibrada, verificamos que não há vida microbiana nessas piscinas salgadas, quentes e hiperácidas ou nas adjacentes ricas em magnésio e salmoura “, enfatiza López García.

Segundo os autores, este trabalho “ajuda a circunscrever os limites da habitabilidade e exige cautela ao interpretar as bio-assinaturas morfológicas na Terra e além”, ou seja, não se deve confiar no aspecto aparentemente celular ou “biológico” de uma estrutura, porque poderia ter uma origem abiótica.

“Além disso, nosso estudo apresenta evidências de que existem lugares na superfície da Terra, como as piscinas de Dallol, que são estéreis, mesmo que contenham água líquida”, enfatiza Lopez Garcia. Isso significa que a presença de água líquida em um planeta, que é freqüentemente usada como critério de habitabilidade, não implica diretamente que ela tenha vida.

Fonte: Eureka Alert

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital