Um grupo de cientistas do Brasil, da Argentina e dos Estados Unidos conseguiu bloquear a ação do vírus causador da zika em camundongos fêmeas, evitando, assim, a microcefalia em seus filhotes. O processo poderia ser repetido em mães humanas e seus fetos, a fim de protegê-los do distúrbio neurológico. O estudo publicado na revista científica Nature Neuroscience.
“Ao invadir as células do hospedeiro, o zika consegue desligar a produção de duas substâncias usadas pelo sistema imune para combater infecções virais: o interferon do tipo 1 e a proteína da leucemia promielocítica”, explicou Jean Pierre Schatzmann Peron, imunologista do Instituto de Biociências (ICB) da Universidade de São Paulo (USP).
Em 2016, Peron já havia divulgado um estudo que relacionava o zika vírus à malformação de bebês. Na época, a publicação abriu portas para que o imunologista pudesse trabalhar com cientistas da Universidade de Buenos Aires, na Argentina, e da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Jean Pierre Schatzmann Peron. Imagem: Reprodução
Como o zika vírus age
Para infectar o organismo, o vírus atua sobre a AHR, uma proteína das células que funciona como um receptor de hidrocarboneto e que, quando ativada, limita a produção de células imunes. Sem a resposta imune, tanto camundongos quanto humanos ficam expostos a vírus no geral. É aí que o zika vírus consegue se multiplicar livremente no organismo do infectado.
“A lesão no feto é diretamente proporcional à quantidade de vírus na mãe. Uma vez que o receptor AHR desliga a resposta imune da mãe, o vírus não tem barreiras, replicando-se livremente e alcançando o feto”, contou Peron.
Uma possível solução
Sabendo como o zika vírus atua, os cientistas foram capazes de buscar, na direção correta, um possível medicamento. “Se a ativação da proteína AHR facilita a replicação do zika, seria lógico imaginar que uma droga capaz de impedir a sua ativação teria um possível efeito benéfico contra a ação do vírus”, afirmou Peron.
Um medicamento capaz de impedir a ativação da AHR foi introduzida em camundongos fêmeas grávidas infectadas com o zika vírus e o resultado foi uma melhora nos sintomas e um bloqueio de “100% da ação do vírus” nos neurônios do cérebro geralmente afetados pela microcefalia.
“Nosso maior desafio foi mostrar que, com o tratamento, nós obtivemos melhora na lesão cerebral. De nada adiantaria observar uma melhora apenas nas mães, sem fazer nenhum efeito no cérebro dos fetos. Mas o tratamento surtiu efeito tanto nas mães quanto nos fetos”, informou o imunologista. “Os fetos tratados com a droga voltaram a nascer com peso normal. O comprimento total dos animais também melhorou. Na placenta e no cérebro, pudemos observar que a remissão do vírus foi total”, completou Peron.
Agora, o próximo passo da pesquisa é testar o medicamento em humanos.
Via: G1