A falta de capacidade para lidar com postagens com discursos de ódio e conteúdos nocivos publicados por usuários não é o único problema do Facebook. Um grupo de cientistas afirma que a plataforma vem restringindo sua capacidade de compartilhar pesquisas e verificar fatos contendo informações erradas sobre mudanças climáticas, favorecendo o discurso negacionista e teorias enganosas sobre o aquecimento global.
Um exemplo seria o da diretora do Centro de Ciência do Clima da Texas Tech University, Katharine Hayhoe. A pesquisadora foi recentemente impedida de promover vídeos educacionais relacionados à pesquisa climática, identificados pela plataforma como sendo de “conteúdo político“.
Como resultado, o Facebook exige que Hayhoe os registre como tal e forneça informações pessoais para validar a promoção, dados que a cientista teme que possam expô-la a ataques pessoais. A pesquisadora avalia a rede social como uma plataforma valiosa para alcançar pessoas fora dos limites partidários. “É uma maneira de compartilhar ciência com eles de modo que não pareça um ataque político”, disse ela. “Colocar meu trabalho no mesmo nível de grupos que buscam confundir o público sobre a ciência climática dá às organizações negacionistas condições iguais e injustificadas”, completa.
Desde então, Hayhoe se recusou a cumprir os requisitos do Facebook para promover suas postagens. Ela diz que a plataforma criou encargos inapropriados para os cientistas que desejam compartilhar informações objetivas sobre as mudanças climáticas. “Estes são os fatos”, disse a pesquisadora, “esses vídeos foram revisados por outros cientistas e eu ainda não posso promovê-los no Facebook”.
De acordo com um levantamento da E&E News – uma organização de notícias com foco em energia e meio ambiente – nas últimas semanas, dezenas de milhares de pessoas foram expostas a alegações enganosas e falsas sobre o aumento da temperatura. Entre as alegações, estão que o consumo reduzido de combustíveis fósseis não ajudará a lidar com as mudanças climáticas e que o planeta estaria se beneficiando do aumento do volume de dióxido de carbono que está sendo liberado na atmosfera.
O Facebook teria, inclusive, anulado uma verificação de fatos de um grupo de cientistas climáticos que impedia um dos grupos que afirma que o CO2 é benéfico de anunciar no site. Ao rotular a alegação falsa como “opinião”, a rede social permitiu que o grupo, chamado CO2 Coalition, retomasse a promoção de informações sem respaldo científico.
“O Facebook precisa explicar por que permitiu que a verificação de fatos fosse revertida”, afirmou Brendan Nyhan, professor de ciências políticas do Dartmouth College e parte da Climate Feedback – um grupo de pesquisadores aprovados pelo Facebook para fazer as verificações de fatos na plataforma. “Se os verificadores não determinam o conteúdo da plataforma, os usuários têm o direito de saber”, completou.
O porta-voz do Facebook, Andy Stone, disse que a Science Feedback (outro grupo de verificadores da plataforma) tomou a decisão de reverter a verificação levando em conta que artigos de opinião não estão sujeitos ao mesmo nível de escrutínio que os posts científicos. Ele disse que o Science Feedback, e não o Facebook, tomou a decisão de reverter o rótulo de “falso”.
Por outro lado, tanto a CO2 Coalition quanto a Science Feedback disseram que o Facebook tomou a decisão de retirar a verificação. “A equipe do Facebook nos informou que [a postagem] não estaria sujeita a uma verificação de fatos e que deveríamos remover a classificação”, disse Scott Johnson, da rede Science Feedback, que inclui a Climate Feedback.
Via: Scientific American