Cientista chinês diz ter criado primeiros bebês geneticamente modificados

Mas a veracidade do estudo tem sido questionada...
Redação26/11/2018 13h27, atualizada em 26/11/2018 13h45

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Um cientista chinês diz ter ajudado a gerar o primeiro par de bebês geneticamente modificados. Jiankui He, pesquisador da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul em Shenzhen, na China, anunciou nesta segunda-feira, 26, o primeiro caso de uso da tecnologia CRISPR em uma gestação completa.

O CRISPR é uma ferramenta de edição genética de extrema precisão que permite que cientistas mudem pequenos detalhes do genoma de um ser vivo. Até hoje a tecnologia tem sido usada em estudos preliminares, com cobaias e, no máximo, com embriões humanos, mas é a primeira vez que crianças nascem com genes editados artificialmente.

Jiankui He contou à agência Associated Press que duas garotas, gêmeas, nasceram no início deste mês na maternidade HarMoniCare, em Shenzhen, e que, durante a gestação, as duas tiveram genes modificados para que fossem removidos os respectivos genes CCR5, uma das portas de entrada do vírus HIV no organismo humano.

Mas é aqui que a história fica controversa. O site do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) também entrevistou Jiankui He. O veículo, porém, disse que o cientista chinês e sua equipe estão desenvolvendo os primeiros bebês geneticamente modificados neste momento, e não confirma que as crianças de fato já nasceram.

Jiankui “não respondeu a uma lista de perguntas sobre se a sua equipe já produziu um ser vivo”, publicou o MIT Technology Review, e o cientista “se recusou a comentar” o assunto. O site, porém, teve acesso a documentos que comprovam o andamento do estudo, publicados no Registro de Testes Clínicos da China (ChiCTR).

De acordo com estes documentos, Jiankui e sua equipe conduziram testes genéticos com fetos de até 24 semanas. Mas os arquivos não dizem se as gestações que participaram do estudo foram concluídas, interrompidas ou se ainda estão em andamento. O ChiCTR é bancado pela Organização Mundial da Saúde.

O estudo de Jiankui ainda não foi publicado em qualquer revista científica de renome nem foi checado por outros cientistas. Ele disse à Associated Press que pretende revelar mais detalhes sobre o seu trabalho no Segundo Encontro Internacional de Edição do Genoma Humano, que acontece em Hong Kong nesta semana.

Mas aqui a história fica ainda mais controversa. A organização do evento disse ao MIT Technology Review que não foi notificada a respeito de qualquer apresentação do tipo. E ao site TechCrunch, a maternida citada pela AP como o local onde as crianças geneticamente modificadas nasceram negou qualquer envolvimento com o estudo.

Um porta-voz da HarMoniCare disse que não está sabendo de estudos de edição genética em fetos sendo conduzidos na maternidade, e que nenhum bebê assim nasceu no local nos últimos meses. O hospital também afirmou que está investigando como o seu nome foi parar nos documentos registrados por Jiankui no ChiCTR.

Se o que Jiankui diz é verdade, este pode ter sido o mais importante avanço envolvendo a tecnologia CRISPR até hoje. O uso da ferramenta sempre levantou questões a respeito dos limites morais em edição genética – até que ponto é correto modificar geneticamente um ser vivo?

Há quem acredite que a tecnologia possa até permitir a criação de bebês “personalizados”, desenhados de acordo com as preferências dos pais, por exemplo. Ou até mesmo o nascimento de “super-humanos” com vantagens genéticas que os coloquem acima de seres humanos médios. Mas tudo o que foi desenvolvido até hoje teve como foco remover tendências genéticas a certas doenças.

Michael Deem, um cientista norte-americano que diz ter trabalhado com Jiankui, disse à AP que sentiu “uma forte responsabilidade de não só fazer os primeiros” bebês geneticamente modificados, mas “também fazer disso um exemplo”. Segundo ele, “a sociedade vai decidir o que fazer em seguida”.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital

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