Edição genética pode curar doenças e alimentar ideia de bebês por encomenda

Renato Santino08/09/2017 22h05, atualizada em 09/09/2017 22h00

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C, R, I, S, P, R. CRISPR. Essas seis letrinhas estão fazendo muito barulho na comunidade científica. É também o nome que se dá a uma ferramenta descoberta por cientistas dos Estados Unidos e que serve para editar informações no DNA de qualquer ser vivo. O DNA, você já sabe, é o conjunto de códigos que descrevem cada característica de um ser vivo, seja ele humano ou animal. Agora imagine só uma ferramenta que permite que cientistas possam alterar essas informações como quiserem, a qualquer momento, e em qualquer escala. Deu pra imaginar? É isso o que o CRISPR faz: edição genética de seres vivos, do jeito mais fácil e rápido possível até hoje. Um avanço da ciência de mãos dadas com a tecnologia.

Por enquanto, o CRISPR só tem sido usado por pesquisadores e ainda não foi transformado em produto do tipo que você possa comprar no mercado. Isso porque a tecnologia é nova: a patente só foi registrada pra valer no começo deste ano. A origem do CRISPR, porém, é bem mais antiga. Ele deriva de um sistema de defesa encontrado no organismo de algumas bactérias, que já é conhecido dos cientistas há algumas décadas. Mas foi só em 2013 que descobriram que também dava para usar essa ferramenta para editar o DNA de humanos e camundongos.

De lá pra cá, o CRISPR foi personagem principal em diversas polêmicas. A principal delas é a ideia dos “bebês por encomenda”. Graças a essa ferramenta, é possível que, no futuro, um casal desenhe o DNA do seu filho que ainda nem nasceu para que ele venha ao mundo do jeito que eles quiserem. Isso inclui aptidões cognitivas e até mesmo atributos físicos. Vai ter gente querendo encomendar bebês que já nasçam com olhos de uma determinada cor, uma altura pré-estabelecida e outras características que, até hoje, eram selecionadas de forma aleatória pela natureza. Ou seja, há grandes chances de que o CRISPR transforme as maternidades do futuro em fábricas de humanos sob medida.

Por enquanto, porém, a ideia dos bebês por encomenda não passa de conjectura. Não existe nenhuma pesquisa publicada em qualquer lugar do mundo em que o CRISPR tenha sido usado para desenhar bebês em laboratório. E como ainda se trata de uma tecnologia nova, ninguém sabe de verdade se isso é possível ou só coisa de ficção científica.

Pesquisas com edição genética existem já desde os anos 70. A novidade é que o CRISPR torna todo o processo de mexer nas proteínas do DNA muito mais rápido e fácil. Tem até estudante de biologia aqui no Brasil trabalhando com ele. O problema é que, como toda ferramenta que mexe com programação – nesse caso, a programação das células de uma pessoa -, o CRISPR também pode apresentar efeitos colaterais, os famosos “bugs”. E um efeito colateral que vira parte do DNA de um ser humano, bem… isso é algo que ninguém quer, não é mesmo?

O que muitos cientistas já comprovaram é que o CRISPR pode e deve ser usado no tratamento de diversas doenças. Em março deste ano, por exemplo, cientistas dos Estados Unidos publicaram um estudo mostrando como a técnica CRISPR pode ser usada para fortalecer a resistência de células saudáveis no combate ao câncer. Editando geneticamente essas células, o corpo dos pacientes tratados conseguiu rejeitar com mais facilidade o avanço do tumor, podendo até transformar células cancerígenas em células saudáveis de novo. Pode ser que ainda demore para o CRISPR virar um simples remédio que se compra na farmácia, mas é bem provável que ele possa ajudar, e muito, na busca por uma cura para o câncer, para a AIDS, o alzheimer e outras doenças graves.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital