Acordo entre Apple e Qualcomm pode ter tido outra motivação: a Intel

A fabricante de processadores desistiu do mercado de modems 5G horas depois de Apple e Qualcomm terem se acertado no tribunal. O que, afinal, estão por trás de tudo isso?
Roseli Andrion17/04/2019 21h13, atualizada em 17/04/2019 21h30

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Depois de dois anos de encontros frequentes nos tribunais, Apple e Qualcomm chegaram a um acordo ontem (16) para acabar com todas as ações que ainda estavam em andamento em diferentes partes do mundo. Era o segundo dia do julgamento da primeira ação proposta pela Apple (por cobrança de royalties abusivos por suas patentes) — e que supostamente declararia um vencedor e transformaria o cenário.

Com a opção por uma saída amigável, muitas perguntas ficam sem resposta. Uma delas, entretanto, foi respondida ontem mesmo: a Intel, principal concorrente da Qualcomm no segmento de modems para dispositivos móveis, coincidentemente anunciou que vai deixar esse mercado. A companhia vai, a partir de agora, se concentrar no segmento de modems 4G e 5G para computadores e dispositivos para a casa.

É difícil saber se foi a decisão da Intel que levou a Apple e a Qualcomm ao acordo ou vice-versa. De qualquer forma, as fabricantes de smartphones agora vão ter de procurar outro fornecedor de modems 5G se quiserem desenvolver aparelhos para essa tecnologia. Basicamente, então, a Intel cedeu sua fatia de mercado nesse nicho para a concorrente.

Como desde o ano passado a companhia era a única fornecedora de modems móveis para a Apple, a desenvolvedora do iPhone estava cada vez mais preocupada com suas condições de lançar o iPhone 5G em 2020. Apesar de a Apple nunca ser a primeira a adotar novas tecnologias, esperar até 2021 a colocaria muito atrás dos concorrentes. Segundo os termos do acordo, a Apple vai pagar uma quantia não revelada em royalties para a Qualcomm — referentes a disputas já passadas — e o contrato global entre elas agora tem duração de seis anos (e pode ser renovado por outros dois anos).

Bob Swan, CEO da Intel, diz que a empresa está bastante animada com a 5G, mas no mercado de modems para celulares está claro que não há oportunidades. “Essa continua a ser uma prioridade estratégica na Intel. Nossa equipe desenvolveu um portfólio de produtos sem fio e estamos avaliando as opções para determinar o valor que criamos e as oportunidades disponíveis em plataformas e dispositivos em um mundo 5G.”

Outras perguntas

Aparentemente, tudo vai bem para as duas organizações, mas é inevitável parar para questionar alguns aspectos do acordo. Veja, a seguir, algumas perguntas sem respostas.

Por que esse acordo repentino?

Durante dois anos, a Apple parecia estar disposta a tudo para combater o modelo de cobrança pelo licenciamento de patentes da Qualcomm. Além de segurar os pagamentos de royalties devidos à empresa, passou a usar exclusivamente os modems da Intel no iPhone XS e a procurar outros fornecedores para o componente.

Em novembro, quando Steve Mollenkopf, o CEO da Qualcomm, disse que as empresas estavam quase chegando a um acordo, o advogado da Apple afirmou que eles não negociavam há meses. É estranho que, depois de toda essa animosidade, a principal batalha judicial entre as corporações tenha se desfeito em seu segundo dia de tribunal.

Como a Intel pode ter influenciado essa decisão?

Afinal, o que aconteceu — ou estava prestes a acontecer — para que a Apple, depois de tanto empenho nessa batalha, tenha aceitado superar tudo e partir para um acordo? Parece muita coincidência que a Intel tenha anunciado sua saída do mercado de modems 5G apenas algumas horas depois de Qualcomm e Apple firmarem um acordo.

A considerar todo o contexto, a chance maior é de que a Intel tenha desistido de desenvolver os modems 5G por saber que a Qualcomm está muito à frente no processo. Além disso, a pressão da Apple certamente deve ter contado: a marca estava claramente preocupada com a probabilidade de ter de adiar o lançamento do iPhone 5G por um ano e, assim, ficar atrás das fabricantes de modelos Android. Pressão de um lado e dificuldades de desenvolvimento de outro podem ter sido o que de fato levou à saída da Intel do segmento e, por consequência, ao aceite de um acordo por parte da Apple.

Quando chega o primeiro iPhone 5G?

A maioria dos smartphones 5G já lançados usa modems da Qualcomm. No cenário atual, é pouco provável que a marca da maçã tenha outras opções de provedores para o componente — especialmente em curto prazo. Como já é tradicional, daqui a cerca de cinco meses, a companhia deve lançar sua nova safra de iPhones — entretanto, é pouco provável que ela apresente um modelo 5G.

É provável que a Apple não queira depender apenas da Qualcomm como fornecedora de modems 5G. A empresa já conversou com a Samsung e a MediaTek, e a Huawei já afirmou que aceita vender seus modems 5G para a Apple. No longo prazo, entretanto, pode ser que a própria empresa decida fazer seus chips. E aí pode entrar uma jogada ainda não visível: a compra da inteligência desenvolvida pela Intel nesse segmento.

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital