Há anos, a Huawei desenvolve seus próprios processadores e modems de alta potência, e faz questão de guardá-los a sete chaves, recusando-se a vender seus produtos para qualquer concorrente. No entanto, segundo o portal Engadget, a gigante chinesa estaria “aberta” a finalmente romper essa barreira e comercializar seus chipsets 5G Balong 5000. Mas para apenas uma única companhia: a Apple.
Tal acordo seria surpreendente não só porque a Huawei está no meio de um fogo cruzado com os Estados Unidos, mas também porque a Huawei pretende se tornar a maior fabricante de smartphones do mundo em 2020 (inclusive roubando da Apple a segunda colocação nesse ranking no ano passado) – e um negócio com uma concorrente não soaria muito bem nesse sentido. Além disso, de acordo com um representante, “os chips Balong são feitos principalmente para ter suporte com os produtos inteligentes da Huawei e estão disponíveis apenas para uso interno da companhia por enquanto”.
Neste momento, porém, não está claro se as empresas tiveram qualquer conversa sobre o assunto – tanto a Huawei quanto a Apple não responderam a pedidos de comentários até a publicação da reportagem do Engadget.
Dias duros com o 5G na Califórnia
A Apple parece não viver dias muito harmônicos com a sua única fornecedora de modems, a Intel. A fabricante de chips, atualmente, fornece esses componentes para todos os iPhones e iPads, e informou, no final do ano passado, que seus modems XMM 8160 habilitados para a rede 5G estariam disponíveis para o segundo semestre de 2019. Porém, o analista da UBS Timothy Arcuri aponta, em relatório, que a Intel não conseguirá cumprir esse prazo, colocando em xeque o lançamento de um iPhone 5G até mesmo em 2020. Por essas e outras, a Apple estaria com os dois pés atrás em relação a parceira.
Enquanto isso, as prolongadas disputas judiciais entre a Apple e a Qualcomm continuam minando a possibilidade de uma futura parceria de 5G. No início deste mês, foi decretado que a Apple deve US$ 31 milhões à Qualcomm por três acusações de violação de patentes. As duas empresas devem voltar ao tribunal em 15 de abril, em uma batalha que envolve bilhões de dólares por pagamentos de royalties.
Paralelamente à essa guerra legal, a empresa californiana também analisa os chipsets 5G da Samsung e da Mediatek. Tony Blevins, executivo da cadeia de suprimentos da Apple, afirmou recentemente que esses testes fazem parte de uma iniciativa chamada “Project Antique”, e a intenção por trás é clara: não depender de um único fornecedor. No entanto, como reitera Arcuri em sua pesquisa, estas seriam soluções [5G] tecnicamente (Mediatek) e praticamente (Samsung) improváveis”, disse ele.
Huawei e Apple – uma amizade ganha-ganha?
Se a Intel não tem mais a confiança da Apple, a Qualcomm ainda não é uma opção, e a Samsung e a Mediatek também não são viáveis, a oferta da Huawei poderia fornecer à Apple os componentes necessários para o iPhone 5G em 2020. No geral, o Balong 5000 parece ser o tipo de chip que a Apple precisa: ele capacita a construção de um iPhone que suporte redes 5G construídas a partir da infraestrutura 4G existente, bem como as redes 5G “independentes” que serão desenvolvidas no futuro.
Ok, mas é realmente possível que a Huawei e a Apple façam um acordo, tendo em vista todo o contexto político e comercial de hoje, quando a fabricante chinesa e o governo norte-americano mantêm uma relação das mais tensas? É bem provável que não, apesar de um entendimento ser, aparentemente, proveitoso para ambas as empresas. De um modo geral, a Huawei ganharia um lucrativo cliente de alto perfil e abriria um fluxo de receitas totalmente novo para si, uma vez que a venda de chips não é exatamente o forte da gigante chinesa.
Além disso, uma aliança com a Huawei poderia ajudar a Apple a ser percebida em um dos seus mercados mais importantes e onde vem perdendo terreno (inclusive para a própria Huawei): a China. E se a companhia norte-americana trabalhasse com a Huawei em um iPhone 5G, quase certamente haveria a compatibilidade com as redes 5G independentes que a China planeja inaugurar nos próximos anos. E esses benefícios certamente colocam de escanteio quaisquer suspeitas de que a gigante chinesa queira quebrar segredos comerciais da companhia da Califórnia.
Ainda assim, há um contrapeso muito relevante na balança desse relacionamento: o lado político. Ao entrar em um acordo com a Huawei – mesmo se os dispositivos resultantes fossem vendidos apenas na China – a Apple poderia rapidamente se encontrar em uma situação difícil com o governo dos EUA. Considerando o tênue relacionamento que já existe entre a Maçã e a administração Trump, alinhar-se publicamente com a Huawei pode ser a última coisa que Tim Cook tem em mente.
Fonte: Engadget