Análise: a Motorola perdeu o rumo da linha Moto G

Renato Santino17/05/2016 20h30, atualizada em 17/05/2016 20h40

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Saíram os novos Moto G. A linha se notabilizou nos últimos anos por liderar o mercado brasileiro, sendo o modelo mais procurado e o mais comprado por boa parte do público nacional. Desde 2013, os aparelhos caíram no gosto do usuário e transformaram o Brasil no principal mercado para a Motorola, tornando o país sempre o foco de apresentações de novos produtos. Foram 16 milhões de unidades vendidas no país de lá para cá.

Infelizmente a empresa perdeu o rumo.

Começou no ano passado, com o Moto G3. Não dá para discutir: o aparelho apresentou uma evolução técnica e estética muito grande em comparação com o modelo do ano anterior. A câmera também deu um grande salto de qualidade, mas também houve um salto de preço. A mesma tendência se repetiu em 2016, com a chegada da quarta geração do aparelho: avanços técnicos e aumento de preço.

O primeiro Moto G custava entre R$ 600 e R$ 700. Foi uma revolução na época, em que as pessoas ostentavam modelos de tela pequena e qualidade duvidosa como o Galaxy Y. A tela HD de 4,5 polegadas e um processador mais decente como o Snapdragon 400, de quatro núcleos, foram coisas nunca vistas até então, e deu à Motorola a liderança justa do mercado brasileiro.

Avançando três anos no futuro, a Motorola não é mais uma empresa, e virou apenas uma marca da Lenovo. O quarto Moto G custa basicamente o dobro de seu primeiro antecessor. O modelo padrão (nem o Plus, nem o Play) custa R$ 1,3 mil, que é basicamente o duas vezes o custo daquela primeira versão tão bem-sucedida. Fica difícil acreditar que a empresa conseguirá repetir o sucesso do passado.

Claro que sabemos que o problema não é só com a Motorola. A situação do país não está ajudando; dólar alto encarece a produção, reduzindo a margem de lucros e dificulta a remessa de dinheiro para a sede no exterior. Os impostos também não facilitam, e o fim da Lei do Bem, que isentava os lojistas do PIS/Cofins, colabora para o encarecimento.

Isso dito, ainda há empresas que são capazes de seguir o caminho do antigo Moto G, e oferecer aparelhos que conseguem disfarçar bem suas limitações técnicas e oferecer um bom preço. É o caso dos Zenfones, da Asus; do Redmi 2 Pro, da Xiaomi, e até a Samsung, que antigamente penava na divisão de intermediários, já está em uma situação mais favorável. A prova disso é que o Galaxy J5 assumiu a ponta de smartphones mais procurados no ranking do site de comparação de preços Zoom.

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A constatação triste é a de que a Motorola (ou melhor, a Lenovo) perdeu o fio da meada do Moto G. As apostas em evolução tecnológica e estética resultaram em produtos melhores, de fato, mas que perderam o lugar no mercado como a referência maior de custo-benefício. Hoje, o smartphone é mais um aparelho no limbo dos intermediários na faixa próxima dos R$ 1,5 mil.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital