Review de ‘Spiritfarer’: uma jornada leve e poética sobre a morte

No papel de Stella, o jogador deve ajudar espíritos na passagem para o mundo dos mortos
Luiz Nogueira02/09/2020 20h42, atualizada em 02/09/2020 21h30

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Em uma época em que os videogames apresentam ideias bastante parecidas, surgem títulos que se destacam, como é o caso de ‘Spiritfarer‘, novo game 2D da Thunder Lotus. No entanto, a produção é mais que um jogo, é uma experiência forte e, ao mesmo tempo, delicada.

Utilizando como pano de fundo a lenda do Caronte – que, na mitologia grega, é conhecido como Barqueiro da Morte -, controlamos Stella, uma jovem que, ao lado de seu gato, chamado Daffodil, deve substituir o responsável por ajudar as almas na transição para o mundo dos mortos.

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Essa descrição pode dar a impressão de que o título é algo pesado, justamente por tratar de um tema como a morte. Felizmente, o game é o oposto. Com cenários muito chamativos e personagens bastante carismáticos, ‘Spiritfarer’ é como uma brisa em meio a um dia ensolarado – mais do que bem-vinda.

História

Logo no começo do game – e junto de Stella e seu gato -, somos apresentados à temível figura do Caronte, um personagem grande e intimidador – pelo menos se comparado à nossa personagem.

Ele nos conta que está prestes a se aposentar e que devemos substituí-lo na missão de guiar as almas de pessoas do mundo dos vivos para o reino dos mortos. No entanto, para isso, devemos conseguir um barco para acomodar os espíritos enquanto eles não estão prontos para realizar a passagem.

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Ao contrário do que se pode imaginar, o jogo não apresenta combates contra inimigos e nem situações de perigo. É tudo baseado na contemplação, gerenciamento de itens e no desenvolvimento da história.
O que o título faz é criar um embate dentro de nós, ao fazer com que nos questionemos sobre o que fizemos na vida e como desejamos que ela seja.

Jogabilidade

Como dito, não há inimigos. No entanto, devido à proposta do game, eles não fazem falta. Isso porque a história é tão completa e arrebatadora, que combates tirariam a pureza e o brilho dos acontecimentos.

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O grande foco da maior parte da história é o gerenciamento de itens. Como os espíritos que ainda não estão prontos ficam no barco, Stella deve deixá-los o mais à vontade possível. Para isso, cada um recebe um quarto próprio. Além disso, a personagem deve suprir todas as demandas e necessidades dos ocupantes.

Novos personagens são encontrados conforme navega-se pelas ilhas do game. A primeira que encontramos é Gwen, um alce fêmea que foi vítima do cigarro. A partir disso, Stella recebe algumas missões para que o espírito fique feliz e realize a passagem em paz.

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Com diversos minigames específicos para cada uma das tarefas que devem ser realizadas, a jogabilidade não se torna cansativa por exigir que o jogador passe por atividades semelhantes no decorrer do jogo.

Os minigames também podem ajudar a passar o tempo do título. Durante a jornada, os jogadores podem escolher para qual destino querem ir, mas não é possível controlar o barco até lá, ele se move sozinho. Nesse tempo entre a localização atual e o destino, as pequenas tarefas podem ser feitas.

Momento da passagem

Aqui vamos falar de um dos momentos mais bonitos que já vi na história dos videogames: a passagem. Quando um personagem está pronto para ir “além”, Stella o leva até um grande portal. Este é o local em que o espírito se desprende da Terra e segue para o próximo passo de sua própria jornada.

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Propositalmente, o game afasta a câmera e mostra o quão pequenos são os personagens em relação ao que está acontecendo ali. Quando a hora finalmente chega, é possível abraçar o espírito para se despedir dele. Com a passagem concluída, a alma se transforma em uma constelação.

O sentimento de perda é evidenciado pela trilha sonora tocante e muitas luzes. É visualmente muito bonito, mas muito triste.

Gráficos e mapa

Os gráficos são lindos. Principalmente ao descobrirmos que foi tudo feito à mão. O visual chama bastante atenção por lembrar muito desenhos animados. Isso ajuda a trazer uma imersão para o game, principalmente durante os diálogos.

É bastante comum você reparar em algum detalhe do cenário e em quão bem desenhado ele foi. Acredito que esse seja justamente o objetivo dos criadores do título, trazer essa contemplação e mostrar como o mundo pode ser belo, mesmo em momentos tão delicados.

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O mapa é relativamente grande e oferece muitas ilhas para visitar, encontrar possíveis personagens para ajudar na passagem e coletar itens. Como citado, não controlamos diretamente o navio durante a navegação, mas isso é bom, já que a movimentação entre os locais é algo bastante recorrente.

Conclusão

‘Spiritfarer’ é uma experiência única e que oferece muitos momentos de reflexão, principalmente sobre nossas motivações e decisões de vida. Sofrer pela morte de algum – ou todos – os personagens é algo muito comum. Mesmo ficando claro que isso é apenas um jogo, é fácil deixar-se levar pela emoção.

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Gráficos bonitos, personagens carismáticos e momentos tocantes dão o tom da aventura e pautam um dos melhores e mais sensíveis jogos dos últimos anos. Com certeza uma experiência que vai marcar todos os que jogarem.

‘Spiritfarer’ foi lançado em 18 de agosto para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch, PC e Google Stadia.

Para testar o game, a empresa enviou ao Olhar Digital uma cópia jogo para PC.

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital