Na mesma semana em que o PlayStation completou 25 anos, o CEO da Sony Interactive Entertainment, Jim Ryan, confirmou em uma entrevista à revista Game Informer que a empresa não tem planos para retornar ao mercado de consoles portáteis.

A Sony efetivamente abandonou este segmento em março deste ano, quando encerrou a produção do PlayStation Vita e de cartuchos com jogos. Entretanto, a companhia deixou para trás um legado de dois consoles que, juntos, receberam quase 3 mil títulos e ainda podem oferecer muitas horas de diversão. Venha conosco lembrar um pouco mais da história do PSP e PS Vita.

PSP, o ínicio de tudo

A Sony entrou no mercado de consoles portáteis em dezembro de 2004 (10 anos após o lançamento do primeiro PlayStation), quando lançou o PlayStation Portable, mais conhecido pela sigla PSP.

A empresa tinha grandes planos para o aparelho, capaz de produzir gráficos 3D sofisticados que não deixavam muito a dever ao console de mesa da época, o PlayStation 2, além de músicas e vídeos. Por isso foi chamado de “Walkman do século XXI” por seu criador e CEO da Sony Computer Entertainment, Ken Kutaragi.

Tecnicamente o console era muito superior ao seu principal concorrente, o Nintendo DS. Tinha um processador mais rápido (333 MHz), mais memória RAM (32 MB) e uma tela maior com resolução mais alta (480 × 272 pixels e 4,3 polegadas). Também tinha porta USB para conexão com um computador, entrada para cartões Memory Stick e um conjunto de controles mais completo, com direcional analógico.

A cerejinha no bolo eram os discos UMD (Universal Media Disk), formato proprietário desenvolvido pela Sony, capaz de armazenar até 1,8 GB (uma imensidão numa época em que um cartão de 16 MB era “grande”) e usado para jogos e filmes.

Mas a Sony não contava com a principal vantagem da Nintendo: sua engenhosidade, que a torna capaz de tirar “leite de pedra” e criar experiências cativantes mesmo com hardware mais “fraco”. Com duas telas (uma sensível ao toque), um catálogo de clássicos como Mario, Zelda e Pokémon e títulos inovadores, capazes de atrair mesmo os não-gamers como Nintendogs, Elite: Beat Agents e Brain Training, o Nintendo DS acabou se tornando mais popular e vendeu 154 milhões de unidades em sua vida útil, quase o dobro do PSP.

Isso não quer dizer que o portátil da Sony tenha sido um fracasso. Pelo contrário, foi o quarto portátil mais vendido na história (atrás do Nintendo DS, Gameboy e Gameboy Advance) e conquistou um público fiel, reproduzindo com sucesso, em forma portátil, muitos dos jogos e gêneros que faziam sucesso no PlayStation 2 ou PlayStation 3.

Múltiplas gerações

Ao longo de sua vida, o console passou por várias revisões. O modelo original é o PSP-1000, também conhecido como “PSP Fat”, pois é o mais “gordinho” entre os modelos.

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PSP-1000, o primeiro modelo

Em 2007, surgiu o PSP-2000, também conhecido como “PSP Slim”, pois era mais fino e mais leve que o original. Além disso, tinha o dobro de memória RAM (64 MB), atendendo a um pedido dos desenvolvedores para reduzir o tempo de espera enquanto o console lê dados dos discos.

Um ano depois, foi a vez do PSP-3000, também apelidado de “PSP Brite”, devido à tela mais brilhante e com cores mais nítidas. Os principais destaques deste modelo foram: um microfone integrado e uma saída de vídeo, que permitia ligar o PSP a uma TV usando um cabo Vídeo-Componente.

Mais um ano, mais um modelo do PSP. Em 2009, surgiu o PSP Go (N1000), um redesenho completo do console. Baseado no design do smartphone Xperia Play, o console tem controles deslizantes que se escondem atrás da tela, mas não tem leitor para os discos UMD; a única forma de adquirir jogos era digitalmente, através de downloads na PlayStation Store.

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PSP Go

Se, por um lado isso contribuía para uma maior autonomia de bateria, já que o leitor era um dos componentes com o maior consumo, por outro afastou os gamers que já tinham uma coleção de jogos em UMD, além daqueles que gostam de economizar comprando jogos usados.

O modelo final foi o PSP-E1000, também apelidado de “PSP Street”. Foi um modelo de baixo custo, sem Wi-Fi, saída de vídeo ou microfone e com alto-falante mono, lançado apenas na Europa em 2011. O design era similar ao do PSP-3000, mas com um acabamento de plástico fosco na cor preta.

Jogos famosos

O catálogo de jogos do PSP conta com mais de 1.370 títulos lançados ao longo de 10 anos, e franquias como Tekken, Street Fighter, Ace Combat, Ridge Racer, Metal Gear, Need for Speed, God of War e muitas outras que deram as caras no console.

Com tantos jogos, fica difícil eleger os melhores ou os que tiveram mais destaque. O jogo mais vendido foi Grand Theft Auto: Liberty City Stories, com mais de 7,6 milhões de cópias vendidas. Mas talvez os jogos que mais simbolizem o PSP são LocoRoco e Patapon.

LocoRoco pode ser descrito como “o jogo mais feliz do mundo”: é impossível ficar de mau-humor depois de uma partida. No jogo, uma criaturinha amarela chamada LocoRoco precisa resgatar seus amigos, raptados pelos Moja. O jogador não comanda a personagem diretamente, mas sim o cenário, usando os botões L e R para incliná-lo e fazer LocoRoco rolar.

Comendo frutinhas o personagem “engorda” e, apertando um botão específico, é possível fazer ele “explodir”, se transformando em vários LocoRoco menores, o que é fundamental para resolver alguns quebra-cabeças. O mais divertido é que LocoRoco canta o tempo todo em uma linguagem inventada, e quanto mais LocoRocos houverem na tela, mais “vozes” acompanharão a canção.

Já Patapon é outro jogo com temática musical. O jogador é uma divindade conhecida como “o todo-poderoso”, que usa tambores mágicos para comandar uma tribo de criaturas chamadas Patapons. Cada botão no controle representa um tambor com um som diferente (Pata, Pon, Chaka e Don), e com sequências de botões é possível criar ritmos de guerra para comandar os Patapon em batalhas contra seus inimigos, os Zigotons. É certo: as músicas não vão sair da sua cabeça.

O sucessor: PlayStation Vita

Em dezembro de 2011, a Sony lançou o sucessor do PSP, o PlayStation Vita. Mais uma vez o concorrente era a Nintendo, com o Nintendo 3DS, e mais uma vez a Sony apostou em hardware mais poderoso: processador quad-core ARM Cortex A9 de 444 MHz, GPU PowerVR SGX 543MP4+, 512 MB de RAM, 128 MB de memória de vídeo, tela OLED de 5 polegadas com resolução de 960 × 544 pixels e duas câmeras de 0,3 MP (uma frontal e uma traseira).

Nos controles, a Sony adicionou um segundo direcional analógico, acelerômetro, giroscópio e um painel sensível ao toque na traseira, que mais tarde seria adotado no DualShock 4 do PlayStation 4. Os jogos passaram a ser distribuídos em pequenos cartões de memória proprietários, em vez de discos UMD, e há um slot para cartões de memória proprietários, os PS Vita Memory Cards, com capacidades que vão de 4 a 64 GB.

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No lançamento, o PS Vita estava disponível em duas versões, uma delas com um modem 3G integrado, para conexão à internet em qualquer lugar. Entretanto, além de ser mais caro e exigir um plano de dados mensal, a conexão fornecida pela operadora AT&T era limitada: era impossível participar de partidas multiplayer ou fazer downloads maiores do que 20 MB via 3G.

Ao chegar no mercado, o Vita vendeu bem: na primeira semana no Japão foram 300 mil unidades, nos EUA foram mais 200 mil. Infelizmente, nas semanas seguintes as vendas caíram drasticamente, até estabilizar em uma média de 10 mil unidades por semana em ambas as regiões, muito menos que o esperado pela Sony.

E onde estão os jogos?

O Vita foi lançado com Uncharted: Golden Abyss, FIFA 12 e Rayman Origins, entre outros, e ao longo de 2012 recebeu jogos das séries Call of Duty, Assassin’s Creed e Little Big Planet. Mas as vendas fracas espantaram os grandes desenvolvedores, o que favoreceu para a diminuição de lançamentos.

Empresas como Ubisoft e Activision reduziram seu apoio ao console, enquanto outras, como a Capcom, decidiram migrar franquias de sucesso como Monster Hunter exclusivamente para o Nintendo 3DS. Sem grandes títulos para atrair os consumidores, as vendas sofrem, gerando um círculo vicioso.

Por fim, a própria Sony negligenciou seu filho e em 2013 começou a sinalizar uma “mudança de foco”, se concentrando no PlayStation 4. O Vita foi posicionado como um acessório, onde o jogador poderia jogar os jogos de PS4 via streaming local através do sistema Remote Play. Em 2015 a empresa já sinalizava que não iria mais produzir jogos próprios para o console.

A situação só não foi pior porque, no Japão, onde há uma preferência por consoles portáteis, desenvolvedoras locais continuaram a suportar o Vita. Especialmente como RPGs que, por demanda popular, acabavam sendo traduzidos e lançados no ocidente, dando um pouco de fôlego ao console.

Ainda assim há bons jogos para o Vita, que no total conta com um catálogo de mais de 1.500 jogos. Entre eles, muitos jogos de desenvolvedores independentes, os “indies”, fruto de um esforço da Sony para atraí-los para a plataforma. Jogos como Spelunky, La Mulana EX e Rogue Legacy são bons exemplos.

Além disso, o console recebeu boas versões de RPGs japoneses, como Persona 4 e Odin Sphere, e uma boa coletânea da série Metal Gear chamada Metal Gear Solid HD Collection, que inclui Metal Gear Solid 2, Metal Gear Solid 3 e remakes dos primeiros jogos no MSX: Metal Gear e Metal Gear 2: Solid Snake.

Dragon’s Crown é outro título que vale a pena conhecer, uma mistura dos jogos de “pancadaria” (Beat’em Up), como Golden Axe e Streets of Rage, com elementos de RPG, que lembra jogos como Dungeons & Dragons: Tower of Doom, lançado pela Capcom para os arcades.

O PS Vita teve vida mais curta no mercado que seu antecessor, apenas 8 anos, e vendeu muito menos do que o PSP: no total foram apenas 16 milhões de unidades, o que o coloca atrás de consoles como o Nintendo Gamecube (21,7 milhões), Atari 2600 (27,6 milhões, sem contar os inúmeros clones) ou Nintendo 64 (32,9 milhões). Seu concorrente, o Nintendo 3DS, vendeu 75 milhões de unidades.

Com números como estes, e a popularidade cada vez maior dos smartphones como plataforma para jogos, não é de se espantar que a Sony tenha decidido abandonar o mercado. Ainda assim, o PS Vita é um console que vale a pena conhecer.